Milton Bituca Nascimento é uma homenagem à altura do ídolo

 


Milton Nascimento é um daqueles artistas que se tornou tão grande é quase impossível resumir sua vida e obra num livro ou num filme. Mas a diretora Flávia Moraes souber lidar com esse desafio de forma surpreendente. Milton Bituca Nascimento é o seu novo trabalho que estreia essa semana nos cinemas brasileiros e ela faz o impossível, transmitir a grandiosidade da lenda viva que é Milton Nascimento.

Este seria, talvez, o grande acerto da produção. Não é sobre contar a história de Milton, como ele ingressou na música e ficou mundialmente famoso. É sobre celebrar o seu legado, sua vida e sua música. Para isso, o longa conta com depoimentos não só dos mais diversos artistas brasileiros, mas também de celebridades internacionais. Personalidades como Chico Buarque, Caetano Veloso expressam a profundidade de suas letras e a capacidade de Milton de unir o regional e o universal.

O longa ainda acompanha a emocionante turnê de despedida de Milton, bem como trechos de alguns shows com músicas icônicas e seu último show no Estádio do Mineirão, em MG. É uma viagem imersiva à vida do cantor mineiro de 82 anos considerado praticamente um tesouro nacional. Ainda que a história de Milton não seja o foco, Flávia se preocupa em mostrar algumas raízes e principais influências de Milton com belíssimas imagens aéreas de Minas Gerais com suas montanhas simbolizando, de certa forma, a grandeza de Milton.

A obra é feita com carinho e deve agradar principalmente aos maiores fãs do cantor. A cereja do bolo, é a voz de Fernanda Montenegro como narradora. O documentário mostra como o talento natural de Milton e suas composições transcendem barreiras geográficas, temporais e culturais. Flávia demonstra habilidade para abordar a dualidade entre a euforia de celebrar um dos maiores ídolos do país com a melancolia de uma sensação de um ciclo que está para acabar.

Talvez o único deslize da obra seja a escolha por uma abordagem não linear. O longa vai e volta no tempo, e isso pode dispersar a atenção do espectador menos familiarizado com a sua trajetória. Apesar da desconexão que isso pode causar, quem não arrisca, não cresce. E ao abordar a narrativa dessa forma, Flávia reforça a ideia de que a obra de Milton de fato não é uma narrativa simples.

Milton Bituca Nascimento é uma obra que consegue traduzir o tamanho do ídolo que Milton é. Ainda que muita coisa tenha ficado de fora, o documentário entrega o que promete. Como dito antes, é praticamente impossível resumir a magnitude de um artista como Milton Nascimento. Para o bem ou para mal, a homenagem e o registro estão feitos. E arte é um pouco sobre isso, nunca nos permitir esquecer de algo que ajudou a moldar a nossa cultura. É justamente esse poder de deixar uma marca profunda, um testemunho através de arte que faz de Milton Nascimento quem ele é. Um artista que tocou o mundo com a sua voz, sua alma e sua paixão.

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