De lá pra cá, o longa francês se viu em diversas polêmicas
envolvendo a representação da cultura mexicana, num filme francês, com atrizes
Hollywoodianas que não tem o espanhol como principal idioma, e está representando
o México nas premiações. Dito tudo isso, procurei assistir o filme da forma
mais neutra possível, sem clubismo associado à Fernanda Torres ou ao Brasil. Eu
fui de coração aberto, mas sem grandes expectativas. E o mais importante, sem qualquer
tipo de viés cultural.
Pois bem. Emilia Perez é um filme conflitante em diversos
aspectos. Para além da mistureba cultural sob a qual o filme foi feito. A
começar pelo fato de ser um musical. Gênero de baixíssima popularidade entre o
grande público. Rita é uma advogada de baixo escalão que é “contratada” por um chefe
de cartel para ajudá-lo a realizar a operação de troca de sexo para ser quem
ele sempre sonhou. Como se o conceito todo já não fosse no mínimo estranho, os
números musicais tornam tudo ainda mais bizarro. Vide uma das primeiras
sequências musicais intitulada “La Vaginoplastia”. É brega, vergonhoso e caricato.
Não é preciso ser mexicano para entender por que o longa é
problemático. As músicas são fracas, numa edição que por si só já é bem
desconexa. Diálogos rasos e óbvios tornam a experiência cansativa, massiva e
tediosa. O espanhol falado soa forçado e esforçado demais. O pouco que se salva
do interesse pelo filme, é a presença de Zoë Saldaña, que por ser a única que
parece saber o que está fazendo em cena, carrega uma direção anêmica nas costas,
mas, que não salva o todo. Além disso, há o mérito de uma abordagem do tema de
troca de sexo é direta, aberta e livre de preconceitos. O problema é forma como
tudo isso é representado. Cheio de estereótipos e sequencias que causam
vergonha alheia. Nem mesmo a jovem Selena Gomez se livra de uma personagem
rasa.
Emilia Perez é uma falha retumbante de um longa que tenta
levantar uma bandeira que não é sua para ser levantada. Não que a produção do
longa precise obrigatoriamente ser composta pela minoria a ser retratada, mas o
próprio diretor, Jacques Audiard admitiu não ter nem sequer estudado a cultura
mexicana ou LGBT+. Apesar de sua abordagem direta ao tema, isso causa uma falta
de desenvolvimento no roteiro. Tanto dos personagens, quanto da história. Se
não fosse isso, talvez fosse possível concordar com aqueles que defendem que o
longa é ousado e corajoso. Veja que os principais problemas aqui apontados
estão mais ligados a uma execução ruim do fazer cinematográfico do que ao que
foi, e como foi retratado no longa.
Emilia Perez não é pior o filme do mundo, e talvez não seja nem o pior filme dessa temporada. Mas acho surpreendente que ele tenha sido escolhido, até certo ponto, como o filme pra representar as categorias de Filme Internacional nas premiações. É apenas um filme, que foi feito, e existe. Só isso.