CRÍTICA: Apesar de qualidades pontuais, Emilia Perez é um longa anêmico

 

Estamos em temporada de premiações. Temporada essa que alguns filmes ganham um destaque que não teriam em outras épocas do ano, seja para o bem ou seja para o mal. Para o bem, temos o nosso excelente representante Ainda Estou Aqui, que no começo do mês, rendeu à Fernanda Torres o Globo de Ouro. Um pouco mais cedo, o mesmo filme perdeu na categoria Melhor Filme Internacional para o francês Emilia Perez. O que fez com virasse praticamente uma obrigação de qualquer brasileiro detestar o longa.

De lá pra cá, o longa francês se viu em diversas polêmicas envolvendo a representação da cultura mexicana, num filme francês, com atrizes Hollywoodianas que não tem o espanhol como principal idioma, e está representando o México nas premiações. Dito tudo isso, procurei assistir o filme da forma mais neutra possível, sem clubismo associado à Fernanda Torres ou ao Brasil. Eu fui de coração aberto, mas sem grandes expectativas. E o mais importante, sem qualquer tipo de viés cultural.

Pois bem. Emilia Perez é um filme conflitante em diversos aspectos. Para além da mistureba cultural sob a qual o filme foi feito. A começar pelo fato de ser um musical. Gênero de baixíssima popularidade entre o grande público. Rita é uma advogada de baixo escalão que é “contratada” por um chefe de cartel para ajudá-lo a realizar a operação de troca de sexo para ser quem ele sempre sonhou. Como se o conceito todo já não fosse no mínimo estranho, os números musicais tornam tudo ainda mais bizarro. Vide uma das primeiras sequências musicais intitulada “La Vaginoplastia”. É brega, vergonhoso e caricato.

Não é preciso ser mexicano para entender por que o longa é problemático. As músicas são fracas, numa edição que por si só já é bem desconexa. Diálogos rasos e óbvios tornam a experiência cansativa, massiva e tediosa. O espanhol falado soa forçado e esforçado demais. O pouco que se salva do interesse pelo filme, é a presença de Zoë Saldaña, que por ser a única que parece saber o que está fazendo em cena, carrega uma direção anêmica nas costas, mas, que não salva o todo. Além disso, há o mérito de uma abordagem do tema de troca de sexo é direta, aberta e livre de preconceitos. O problema é forma como tudo isso é representado. Cheio de estereótipos e sequencias que causam vergonha alheia. Nem mesmo a jovem Selena Gomez se livra de uma personagem rasa.

Emilia Perez é uma falha retumbante de um longa que tenta levantar uma bandeira que não é sua para ser levantada. Não que a produção do longa precise obrigatoriamente ser composta pela minoria a ser retratada, mas o próprio diretor, Jacques Audiard admitiu não ter nem sequer estudado a cultura mexicana ou LGBT+. Apesar de sua abordagem direta ao tema, isso causa uma falta de desenvolvimento no roteiro. Tanto dos personagens, quanto da história. Se não fosse isso, talvez fosse possível concordar com aqueles que defendem que o longa é ousado e corajoso. Veja que os principais problemas aqui apontados estão mais ligados a uma execução ruim do fazer cinematográfico do que ao que foi, e como foi retratado no longa.

Emilia Perez não é pior o filme do mundo, e talvez não seja nem o pior filme dessa temporada. Mas acho surpreendente que ele tenha sido escolhido, até certo ponto, como o filme pra representar as categorias de Filme Internacional nas premiações. É apenas um filme, que foi feito, e existe. Só isso.

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