Com 79 anos e o diagnóstico de neuropatia periférica, uma doença que pode atingir nervos motores e sensoriais, ele revelou em 2017 que esse quadro o estava deixando surdo, com um zumbido insistente, e suas mãos mal funcionavam... Sem esquecermos dos problemas anteriores com álcool e cocaína e a perda de um filho de quatro anos num acidente no início da década de 90.
O tempo de intervalo entre as vindas ao Brasil e as declarações/histórico sobre sua saúde nos faria imaginar que ele nunca mais viria ao Brasil e, se resolvesse fazer shows, concentraria suas performances em residências onde esgota 7-11 datas seguidas de shows, como Japão e Londres.
Não foi isso que aconteceu, em Dezembro de 2023 foram anunciadas três datas, com São Paulo ganhando mais uma data intimista e em Maio ele iniciou a turnê, que passou pela Inglaterra, Irlanda, França e Itália, antes de desembarcar na Argentina e, posteriormente, Brasil.
Antes de Eric Clapton aparecer no palco, tivemos a "abertura de luxo" de Gary Clark Jr., artista que havia feito o mesmo em 2011 e é figurinha carimbada no Crossroads Festival, evento organizado por Eric Clapton e que tem grana revertida a uma fundação de recuperação de viciados e também criada por Clapton.
Mantendo a identidade blues rock do dia, o artista com quatro álbuns na bagagem apresentou para o público 7 faixas (e algumas trocas de guitarra) que percorreram 1h de duração, incluindo 'What About the Children' (faixa composta em parceria com Stevie Wonder) e contagiando o público com a épica 'This Is Who We Are', performada para um Allianz Parque já bastante cheio.
O repertório completo dele foi:Com praticamente 16 músicas (salvo exceção) e duração mínima de 1h50 a turnê foi iniciada com preciosidades incluídas como 'Presence of the Lord' (Blind Faith) e 'White Room', (ambas presentes somente em alguns shows no Reino Unido) clássico do Cream e que no futuro, foi substituída por 'Badge', outro clássico e faixa que originalmente tem é composta também pelo Beatle quieto George Harrison (que Eric Clapton roubou sua esposa e se inspirou para compor 'Layla').
No repertório sul-americano, nada de Blind Faith ou 'White Room'. A clássica 'Sunshine of Your Love' abre o show e já ganha o público, entoando o refrão no volume mais alto possível, seguindo de 'Key to the Highway', 'I'm Your Hoochie Coochie Man' e 'Badge', antes de iniciar a parte acústica.
Dando uma esfriada no público, principalmente aquele que é fã de seus clássicos autorais, Clapton começa o bloco acústico com 'Kind Hearted Woman Blues', faixa de Robert Johnson e também toca com o brasileiro Daniel Santiago as faixas 'Lonely Stranger' e 'Believe in Life', que não deixam de ser obras conhecidas, mas não tão conhecidas para o público geral quanto 'Layla' e 'Wonderful Tonight', ambas fora do repertório em 2024.
Para embalar o público num geral, na parte acústica do show, as escolhidas para a tour sul-americana foram 'Nobody Knows You When You’re Down and Out', 'Change The World' e 'Tears in Heaven', com um Allianz Parque lotado cantando ambas e proporcionando uma experiência visual incrível com a lanterna dos celulares.
Voltando para a guitarra, 'Got to Get Better in a Little While' foi a escolhida para representar Derek and the Dominoes e 'Old Love' contou com um solo extenso, mostrando o porquê de Clapton ser considerado o "Deus da guitarra".
Chegando no finalzinho, um ritmo de samba/bossa-nova toma conta do palco e é emendado por 'Cocaine', superhit que ficou famoso nas mãos de Eric Clapton e, novamente, fez o Allianz Parque cantar o refrão em alto e bom-tom, num bloco elétrico que o público foi energizado do início ao fim e ainda contou com 'Crossroads Blues'/'Little Queen of Spades'.
Numa espécie de BIS, Eric Clapton tocou 'Before You Accuse Me', mais um cover que ficou famoso nas mãos do Deus da guitarra e, para essa performance tivemos a bandeira da Palestina estampada em sua Fender, além da participação de Daniel Santiago (dessa vez não vimos Eric Clapton ft. Gary Clark Jr.).
Em diversos momentos também foi mostrado todo o talento da banda de Clapton, teclado (Chris Stainton), órgão (Tim Carmon), guitarra (com Doyle Bramhall II alternando com maestria seus solos/riffs com Clapton), baixo (com Nathan East assumindo até mesmo os vocais de faixas como 'Sunshine of Your Love'), bateria (com Sonny Emory) e até mesmo o coral/backing vocal que dá um charme e riqueza ainda maior para a performance.
Sendo um sobrevivente (ele mesmo já disse estar surpreso por continuar vivo após mais de 70 anos) da era de ouro do rock (que nos deu nomes como The Beatles, Rolling Stones, The Who e o próprio Cream) é um privilégio ver Eric Clapton nos palcos, fazendo turnê e encantando cada um dos presentes em seus shows, independente de qual seja repertório.
Setlist completo: