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A canção instrumental segue uma tradição, uma vez que Raio, também foi single do álbum que marcou a estreia solo, A Elasticidade do Tempo (2020). E desta vez vem com uma mensagem que marcou um período da vida do artista: “Este comboio não para em Arroios” era uma frase repetida todas as vezes que o metrô passava pela estação de Arroios, em Lisboa, que naquele momento estava interditada para obra. Era pré-pandemia, uma outra realidade. E foi quando a faixa ganhou os seus primeiros acordes. “Lembro de quando comecei a esboçar a música, recém tinha montado a minha banda, ainda em Lisboa. Depois de quinze anos como baixista, foram os primeiros ensaios de volta ao meu instrumento de origem, no caso a guitarra. O volume dos instrumentos era muito alto e isso colaborou para que nascessem canções mais pesadas”, recorda Krieger.
“Nesta época, o disco que fazia a trilha sonora das minhas caminhadas até o estúdio era A Página do Relâmpago Elétrico, do Beto Guedes e o Com Uma Viagem na Palma da Mão, do Jorge Palma, dois álbuns que influenciaram todo este meu momento. E numa dessas idas e vindas aos ensaios, peguei o celular do bolso e gravei a voz que tanto ressoou nos meus ouvidos”, conta.
No fim, a canção acaba por marcar a mudança de Lisboa para o Sobral do Parelhão, aldeia no oeste português onde o álbum foi registado e finalizado. “E a partir do momento que me mudei de Lisboa, a frase fez ainda mais sentido, pois a linha de trem da imagem da capa do single - no caminho entre Sobral do Parelhão e Bombarral - realmente não para em Arroios”, comenta Krieger.
“O trajeto percorrido durante o vídeo pode ser chamado de ‘o caminho da aprovação’, pois foi durante esse percurso que ouvi as misturas do álbum e as versões das músicas que estavam a surgir no processo de composição do disco”, recorda. Além da cena bucólica do caminho de Krieger, na estrada que liga Sobral do Parelhão a cidade de Bombarral - onde está a trilha da capa do single -, imagens urbanas captadas pelo fotógrafo Daryan Dornelles se misturam a pessoas em movimento com um certa dose de voyeurismo, quase um sujeito oculto no meio do caos.
“Como faz parte de um filme que vai ser ilustrado com vídeos das músicas do álbum, a ideia de aparecer de costas foi pelo fato da música ser instrumental. Pensei que seria interessante brincar com isso. E as referências do vídeo, acabaram sendo o próprio áudio, como se as cenas fossem se encaixando. Outro ponto interessante é que o disco, os vídeos, capas e símbolos acabam se encontrando em algum momento, e a cada processo que avanço crio uma interferência no outro. Trabalhar com todas essas frentes tem sido uma experiência estimulante”, comenta.