Quase dez anos depois, Divertida Mente está de volta aos cinemas. A animação da Pixar que tem como protagonistas as emoções humanas Tristeza, Raiva, Nojinho, Medo e principalmente Alegria agora conta com as novas emoções Tédio, Vergonha, Inveja e Ansiedade que tem que lidar com uma Riley adentrando na turbulenta fase da puberdade. Dessa vez, quem assume a direção é Kesley Mann que faz sua estreia no mundo das animações em longa-metragem.
Em Divertida Mente 2, tudo vai bem entre as emoções do
primeiro longa. Cada emoção sabe seu papel e todas comandam Riley com equilíbrio.
Porém, quando a sirene da puberdade toca, o caos se instala, e agora Alegria
precisa lidar com os novos colegas de trabalho junto às grandes mudanças da
vida de Riley
O problema começa quando a Ansiedade se prova útil em algumas
situações, mas sua liderança fica fora de controle ao mandar as emoções
originais para os confins da Inconsciência, enquanto Tédio, Vergonha e Inveja
ajudam a Ansiedade nessa nova fase da vida de Riley. Para início de conversa,
Ansiedade é o grande destaque da sequência. Não à toa, o timing da Pixar foi
oportuno. Nunca se falou tanto em ansiedade e saúde mental em geral. Se uma
protagonista pré-adolescente é um elemento certeiro para como o público mais
jovem e principal alvo do filme, a Ansiedade por si só é uma emoção universal e
muito vigente.
Abrir o escopo de emoções no comando gera a uma mina de ouro
para diversas situações mais dramáticas e para boas piadas de fácil identificação.
Além disso, conhecemos mais lugares da mente humana não mostrados no primeiro longa,
como o Cofre dos Segredos e o Rio da Inconsciência. Divertida Mente 2 não tem
medo de explorar e arriscar. E nem precisa muito, não é muito difícil de imaginar
como é uma garota com hormônios à flor da pele.
Porém, com mais quatro novos personagens, fica claro que não
há espaço no roteiro para todas as emoções se manifestarem, especialmente num
longa de 96 minutos destinado principalmente ao público infanto-juvenil. Dito
isso, Inveja e Tédio ocupam um posto de quase figurantes que estão lá mais para
algumas piadas pontuais. Talvez o grande destaque da Ansiedade denuncie o desejo
e urgência da Pixar de aproveitar o “zeitgeist” de saúde mental causado pela
ansiedade na atual geração de consumidores.
Acontece que o prato estava
cheio para a Pixar, que ao final
de Divertida Mente já nos mostra uma Riley com pitadas de sintomas da puberdade.
O terreno estava pronto e as notícias sobre toda uma geração sofrendo de
ansiedade criaram o momento perfeito para a continuação. Talvez por isso,
também, Divertida Mente 2 não emocione tanto quanto o primeiro.
Entretanto, Divertida Mente 2 é a prova de que o problema
não é reciclar personagens, e sim ter um roteiro ruim. E isso é tão brilhante
no novo longa, que a história parece flertar com a ideia de que a Ansiedade é a
vilã apenas para quebrar as nossas expectativas mais cedo ou mais tarde.
Fato é que nem mesmo o excesso de personagens para pouco tempo
de tela, é capaz de comprometer tanto um filme da Pixar. Esta, mais uma vez,
mostra porque é não apenas o maior estúdio de animação do mundo, mas também
porque é o que mais nos emociona. E Divertida Mente 2 também faz rir, e muito. O
produto pode ser destinado ao público infantil, mas emoções são comuns a todos
os seres humanos independente da idade. E esse é grande cerne de Divertida
Mente, todo mundo tem emoções.
Falar de Divertida Mente 2 é também falar de sua versão brasileira.
Miá Mello volta com toda sua energia e talento, emprestando a voz para a
Alegria, Otaviano Costa retorna como o Medo e o cantor Leo Jaime dá a voz à
Raiva. Mas o grande destaque é Tatá Werneck, que faz sua estreia na dublagem com
a Ansiedade, e é quase óbvio dizer que a personagem lhe cai como uma luva.
Ambientação sempre foi um dos lados mais fortes da Pixar. Em
2015 a representação visual do cérebro humano no longa foi usada como
referência e até reverenciados por psicólogos ao redor do mundo. Elementos como
as esferas de lembranças e ilhas de personalidade continuam presentes e, de
forma muito natural, conhecemos novos artefatos que são de absoluta importância
para o bem-estar de Riley. A habilidade da Pixar de deixar cada parte da
história concluída de forma orgânica (quando quer), é inigualável. Tudo é
justificado em algum momento e aí você se emociona.
Divertida Mente 2 é uma sequência aguardada por fãs desde uma época em que se dizia que o estúdio não produziria mais sequências. Esperar quase uma década valeu à pena e valeria esperar outra para ver uma Riley já adulta e encerrar com uma boa trilogia. Estaremos te esperando, Riley.