Nesse fim de semana 11 e 12 novembro, a cidade de São Paulo
recebeu pela quinta e última vez, o cantor, compositor, baixista e fundador do
Pink Floyd, Roger Waters. Com 80 anos de idade e uma carreira de mais 50, o
músico britânico fez dois shows na capital paulista que faz jus não apenas à
sua grandiosidade, mas à sua despedida megalomaníaca.
Às 20 horas em ponto, o telão com um texto traduzido anuncia
o início do show dentro de 20 minutos, depois 15, 10 e 5 minutos. Roger abre o
show com uma versão hiper minimalista de Comfortably Numb. Roger Waters sabe,
como ninguém no mundo da música, preparar seus fãs. Sua habilidade em criar expectativa
para o grande momento é simplesmente incomparável.
De todas as passagens de Waters pelo Brasil, essa talvez
tenha sido a mais focada em seu trabalho solo. Claro que isso não impede que o
setlist de 24 músicas passe pela história do Pink Floyd. Tudo com o auxílio de
luzes e lasers psicodélicos e 4 telões enormes e de altíssima definição que se
estendem de ponta a ponta no palco e que além de servirem como auxílio para aqueles
que estão mais longe do palco, também passam as mensagens políticas e ideológicas
de Waters.
Regado à muitas críticas políticas através de textos e
imagens reais, Roger diz tudo o que pensa. Políticos são criminosos de guerra,
o capitalismo exacerbado precisa parar, os milionários devem ser taxados,
estamos vivendo um futuro distópico previstos por autores como Aldous Huxley e
George Orwell está acontecendo e é claro, parem como todo e qualquer tipo de
genocídio. Mas, diferente de sua última passagem pelo Brasil em 2018, não
houveram vaias. Talvez porque logo antes do show começar, um texto aparece na
tela, lido por um Roger Waters de voz rouca que dizendo que se você for um dos
fãs que alega amar o Pink Floyd, mas não suporta as políticas do músico, você
pode ir pro bar mais próximo ao estádio.
Políticos são duramente criticados enquanto civis vítimas de
conspirações governamentais são homenageados, incluindo até Marielle Franco. Se
tratando de um show de um ex Pink Floyd, o espetáculo audiovisual de quase 3
horas de duração é dividido por um intervalo de 20 minutos que para alguns fãs
pode quebrar o ritmo da experiência multi-sensorial. Enquanto isso, um porco
inflável estampado de tijolos e com mensagens provocantes pairava pelo estádio.
Como dito, Waters sabe construir um grande momento.
Passando por quase toda a discografia da banda, o icônico
disco Dark Side of the Moon é dos mais possui mais músicas no set, contando 5
delas. O show ainda encontra tempo para passar pelo seu último trabalho solo,
lançado em 2018, e fazer homenagens menos ativistas e mais intimistas. É o caso
de Wish You Were Here em que é precedido por uma história tocante sobre a
amizade entre Waters e Syd Barret, o embrião da banda, com imagens dos 4 integrantes
e talvez, fãs mais assíduos (como este que voz escreve) tenham percebido a ausência
da imagem do ex guitarrista e vocalista, David Gilmour.
O show é alto, explosivo, grandioso e épico. As luzes são fortes,
coloridas e há momento onde tanta coisa acontece que faz o público não saber
pra onde olhar e ainda assim, ser completamente surpreendido por tanta
produção.
Essa também é provavelmente a apresentação mais versátil de Roger, que além do baixo, ainda toca guitarra, violão e piano. Como se não bastasse tanto talento, o músico ainda explora mais o seu lado cênico, interpretando uma versão diferenciada de Pink, o protagonista do longa lançado pela banda em 1982. O disco auto biográfico e maior obra prima do músico, conta com 7 músicas, incluindo é claro, Another Brick in the Wall.
Os shows de Roger Waters sempre foram muito conhecidos por ser
uma grande experiência sensorial. O que é auxiliado pelo também famoso sistema
de som quadrifônico, que consiste em caixas de som espalhadas por todo o Allianz
Parque, fazendo com que o público se sinta “dentro” da música. Chega a ser
possível entender porque Roger brigou tanto, por tanto tempo na justiça para
manter o nome da banda para si.
A banda de Waters é igualmente excepcional. Trajando roupas
pretas, cada músico tem seu destaque, e mostra a que vieram. Alguns que já
trabalham com Roger há anos, como o guitarrista Dave Kilminster e o tecladista
Jon Carin. E ao final da noite, Waters homenageia Bob Dylan, sua esposa Kamilah
e seu irmão mais velho John que faleceu no ano passado.
A qualidade e perfeccionismos do show são indiscutíveis. Claro
que um show com tanta coisa acontecendo, precisa ser milimetricamente roteirizado,
o que não dá brechas para improvisações ou mudanças de músicas no setlist. A turnê
toda é um grande espetáculo, quase como um filme sendo reprisado. Há aqueles fãs
que preferem uma variedade maior de músicas, mas essa sempre foi a proposta de
Waters. E sempre deu muito certo.
Roger Waters concluiu sua última passagem pelo Brasil
fazendo o que faz de melhor: proporcionando ao público um show absolutamente
impecável cheio de surpresas e que vai ficar em nossas memórias para sempre. Após
a o fim dessa turnê o músico deve se aposentar, mas seu legado já foi deixado
para nós. E nós, só temos a agradecê-lo por tamanha experiência e genialidade
musical. Muito obrigado, Roger Waters.