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Se a etimologia do nome Afrodite ainda é um mistério, o mesmo não se aplica a AFRODHIT, inspirado no conceito de um ser que nasceu do centro da Terra e caiu no universo urbano, passando a viver as conquistas e agruras, os desamores e recomeços. AFRODHIT aterrissa para descobrir todos os prazeres e aflições que permeiam os relacionamentos. Esse olhar para a realidade surge nas mais variadas versões — sempre fortemente orientadas para o afrobeat — que conduzem IZA a ritmos que vão de R&B, rap, lovesong até funk, extrapolando os limites da MPB, resultado de sua vivência nos palcos, nas telas e no presente. A cantora e compositora comanda todo o corre, mesmo quando é preciso se adaptar a gêneros mais “inesperados”; nota-se tranquilamente que percebeu as inúmeras possibilidades para a própria voz, que se reinventa e se molda à proposta.
O álbum é, em grande parte, uma imersão nas questões femininas, para a qual a protagonista IZA convidou parceiras para lá de especiais, mulheres que crescem ombro a ombro com ela, para dividir essa caminhada repleta de descobertas. São abordadas temáticas pelas quais as mulheres se reconhecem em IZA, que, por sua vez, reconhece-se em si mesma. E, perpassando o álbum, o recado vai sendo dado: hoje, IZA já não encontra dor em deixar o passado no passado e mirar corajosamente um futuro independente — de certo, um movimento de transformação de dentro para fora, que, em AFRODHIT, irrompe em novas e audaciosas habilidades adquiridas ao longo desses anos.
Não significa que a cantora e compositora esteja travando uma batalha contra o sexo oposto, longe disso. Os que chegam para acrescentar são muito bem-vindos, como Arthur Verocai, na faixa de abertura, “Nunca Mais”; Russo Passapusso, em “Mega da Virada”; L7nnon, em “Fiu Fiu”; e Djonga, em “Sintoniza”. As escolhas demonstram o radar apurado de IZA e reforçam sua versatilidade, ao fazê-la embarcar em uma jornada destemida com representantes da música brasileira que reinam nas ruas de todo o Brasil. São faixas arrebatadoras, cada uma a seu modo: em “Nunca Mais”, o desabafo de IZA é contundente, porém amenizado pelo luxuoso arranjo de cordas do maestro Verocai. A festa de “Mega da Virada” é invocada pela cantora e endossada pelo líder do BaianaSystem, Russo Passapusso. Já “Fiu Fiu” traz a naturalidade com que as gerações mais jovens lidam com o sexo, desmistificando os desejos no trap classudo de L7nnon, com o toque marcante do concorrido beatmaker Papatinho. Com arranjo do premiado produtor Nave, “Sintoniza” é um convite melodioso cheio de malícia para o flow incisivo do rapper Djonga.
Mas também não deixa de ser verdade que AFRODHIT traz um coro feminista tão baseado em experiências reais que deixa as teorias no chinelo. Para a divertida "Fé nas Maluca", a cantora convida MC Carol, outra líder negra, para dividir os vocais ou, melhor dizendo, para se unir e confabular sobre o poder da união entre as mulheres. A funkeira, nascida e criada nas favelas do Rio de Janeiro, é considerada uma importante voz feminista da quebrada, com suas letras de cunho pessoal e relatos de experiências sexuais. Aqui ganha o aval de IZA, reforçando que qualquer padrão estabelecido para as mulheres é uma grande bobagem e deve ser combatido com uma boa dose de sororidade. Assumidamente fã de Tiwa Savage, IZA compartilha uma faixa com a nigeriana e confortavelmente se equipara à rainha do afrobeat. Na dançante “Bomzão”, com a mescla de ritmos, vozes e idiomas, elas se complementam e transportam o flerte para a pista, satisfazendo o desejo dos fãs que estiveram no festival Back2Black torcendo por esse feat.
Tomando a característica cativante de "Que Se Vá" como referência, não se espante caso uma, duas, três faixas, ou até mesmo todas, tornem-se hits imediatos assim que AFRODHIT estiver disponível. “Que Se Vá” é um basta ao que não é mais tolerado no universo feminino e, nas palavras da cantora, “uma música de libertação”. Embalada por uma sonoridade irresistível, a composição é claramente um grito, um desabafo, uma virada de página — da qual IZA sai ainda mais forte e às gargalhadas.
Cantarolar não só é permitido, como um convite pessoal de IZA. Vai resistir?
Faixa a faixa por IZA
1
- “NUNCA MAIS”
(IZA,
Carolzinha, Caio Paiva, Douglas Moda, Jenni Mosello e King)
“Um
R&B que comecei a criar imaginando como seria uma faixa que
unisse Sade e Kali Uchis.” Ainda nas palavras da própria cantora,
“é uma música a respeito da intensidade dos relacionamentos”.
2
- “FÉ NAS MALUCA” - FT. MC CAROL
(IZA,
Carolzinha, Douglas Moda, Jenni Mosello, King, Nine, Nox e Mc
Carol)
Um
manifesto da união entre as mulheres, mesmo diante de situações
questionáveis. “É uma mistura de irmandade e amizade. Acho que
[“Fé nas Maluca”] descreve muito sobre nós [mulheres].”
3
- “QUE SE VÁ”
(IZA,
Carolzinha, Douglas Moda, Jenni Mosello, Lucas Vaz e King)
“Se
é pra lavar roupa suja, eu tô te devolvendo até o pregador” —
esta é apenas uma das frases da música que resume a “ação em
si”: “O momento em que eu entendi que eu tinha virado página”.
4
- “TÉDIO”
(IZA,
Jenni Mosello, Lary, King, Douglas Moda, Nox, Nine, Beasi)
Uma
franca narrativa de uma convivência que chegou ao limite. “Às
vezes, a gente é obrigada a acreditar que aquilo é o normal (...)
mas não deveria ser.”
5
- “MEGA DA VIRADA” - FT. RUSSO PASSAPUSSO
(IZA,
Douglas Moda, Pablo Bispo, Ruxell, Gondim, Multi, Tállia, Romeu,
Klismman, André Vieira, Breder, Wallace Vianna, Russo
Passapusso)
Não
por acaso, é uma das faixas mais festivas do álbum. IZA sempre
expressou a predileção em cantar reggae, e este vem coroado com a
potência de Russo Passapusso, vocalista do BaianaSystem. Honrada com
a participação, já que é admiradora da genialidade de Russo, IZA
se joga como se estivesse no centro da tradicional roda da banda: "Um
pagodão meio reggae que canto já imaginando como será no show".
6
- “BATUCADA”
(IZA,
Carolzinha, Jenni Mosello, Douglas Moda, Lucas Vaz, King)
O
baixo de Jerry Barnes (do Chic) imprime um tom elegante
ao
batuque
proposto por IZA.
“Ele
mandou três linhas diferentes, e a gente construiu algo em cima
disso.”
7
- “BOOMBASSTIC” - FT. KING
(IZA,
Jenni Mosello, Lary, King, Douglas Moda, PEP)
Promessa da música
nacional, a cantora King Saints também marca presença como
compositora em boa parte do álbum. Em “Boombasstic”, a artista
negra da baixada fluminense ganha não só o espaço, como o aval de
IZA para expandir sua personalidade vibrante. “A faixa é sobre
curtição, dançar… A vibe é bem Viaduto de Madureira. Remete ao
hip-hop dos anos 2000. Acho que muita gente vai gostar.”
8
- “TERÊ”
(IZA,
Jenni Mosello, Lary, King, Douglas Moda, Papato)
Papatinho tem a
brilhante sacada de samplear “Tereza Guerreira”, de Antonio
Carlos & Jocafi, para potencializar a história que IZA queria
contar usando
como referência a música “Vacilão”, de Zeca Pagodinho.
“Sempre quis musicar uma historinha, e escolhi minha tia Terê como
personagem, porque ela é muito peculiar.”
9
- “FIU FIU” - FT. L7
(IZA,
Jenni Mosello, Lary, King, Douglas Moda, Papato, L7)
A voz rouca
e sensual de IZA é o fio condutor para um jogo de flerte que vai
muito além, com o reforço do habitual traquejo sedutor de L7nnon:
“É uma faixa quase sexual. Muito gostosa de ouvir”.
10
- “SINTONIZA” - FT. DJONGA
(IZA,
Hodari, King, Luccas Carlos, Nave, Djonga, Cyclope, Red)
IZA
abusa do poder para propor uma parceria musical que sugere segundas
intenções. A consequência é um R&B repleto de insinuações
calorosas. “É um som super-radiofônico, um R&B pra lá de
romântico.”
11
- “BOMZÃO” - FT. TIWA
(IZA,
Jenni Mosello, Douglas Moda, Lary, King, Twia Savage, Mystro, Jweezy,
Twins)
Admiradora
de Tiwa Savage de longa data, IZA nunca deixou de sonhar com a
possibilidade de uma colaboração com a rainha do afrobeat. Porém,
aos olhos da carioca, a parceria pareceu ficar ainda mais distante
depois que a nigeriana entrou no projeto Black Is King (2020), de
Beyoncé.
“Ainda
não acredito que rolou a parceria com a Tiwa. Foi tudo de forma
orgânica e rápida. A música é sobre estar apaixonada e muito
gostosa para dançar.”
12
- “EXCLUSIVA”
(IZA,
Vitão, Carolzinha, Jenni Mosello, Douglas Moda, King)
A
faixa é sobre o reencontro com o amor: “A gente fala: ‘Nunca
mais vou querer me envolver sério com alguém’, mas as coisas
acontecem. E eu fiquei encantada com essa situação, por isso quis
escrever a respeito.”
13
- “UMA VIDA É POUCO PRA TE AMAR”
(Pedro
Baby, João Moreira, Pretinho da Serrinha, Rachel Luz)
A música
escrita por Pedro Baby e Pretinho da Serrinha transporta IZA para um
sarau com Os Tribalistas que, com programação e samples de Nave,
faz a canção soar como uma valsa. “É uma faixa que mostra mais
textura na minha voz. Além disso, tem o arranjo de cordas do Arthur
Verocai. Vou falar disso para sempre porque acho o Verocai muito
sofisticado.”