Desde o título, é evidente que "Sucession" refere-se à disputa pelo cargo de CEO da empresa. Porém, a série de quatro temporadas vai além disso. Em Succession, tudo se desenrola rapidamente e a sucessão de eventos é cativante. Empresários comprando e vendendo empresas, traições, reviravoltas, pitadas de comédia, reflexões e muito mais.
A qualidade da série foi comparada a Breaking Bad, e posso entender o motivo. Succession possui um roteiro, figurino, locações e elenco tão precisos quanto a saga de Walter White. No entanto, acredito que seja ainda mais comparável a Game of Thrones. Isso se deve ao fato de que Succession apresenta uma trama hipercomplexa com uma variedade de personagens. Para aqueles que não estão familiarizados com o mundo corporativo e o mercado de ações, assistir Succession pode ser como estar em uma festa em que você não conhece todas as pessoas, mas está feliz por estar imerso naquela bagunça.
Cada elemento da série é cuidadosamente posicionado para impulsionar o enredo. Logan Roy, o patriarca implacável e estoico, é um empresário determinado, disposto a fazer qualquer coisa para alcançar seus objetivos. Kendall é um personagem principal, com profundidade, que oscila entre ser um empresário experiente e viver à sombra do pai. Roman, brilhantemente interpretado por Kieran Culkin, é o membro mais sociável da família, mas também um pervertido sem filtros. Connor, o mais velho, é praticamente um figurante, desprezado e esquecido. Já Shiv é a única mulher da família, que enfrenta o machismo no mundo corporativo, mas muitas vezes pensa apenas em si mesma.
Logan é um chefão intimidador, que impõe respeito por onde passa. Estratégico e frio, ao longo da série, ele prometeu a posição de CEO a cada um de seus filhos, apenas para obter o que queria de cada um. A atuação de Brian Cox no papel é indiscutivelmente uma das mais poderosas da história da televisão. Connor nunca recebeu amor, Kendall nunca recebeu reconhecimento, Shiv nunca recebeu respeito e Roman nunca recebeu atenção. Cada uma dessas frustrações é evidente e afeta os relacionamentos e os negócios.
Esses personagens complexos são levados ao limite em cada episódio, graças a um roteiro impecável. Succession nos leva ao mundo das famílias mais ricas dos Estados Unidos e faz com que questionemos nosso ódio por milionários como Elon Musk ou Jeff Bezos, o que se torna quase irrisório ao assistir Succession. A série retrata com precisão o mundo corporativo e seus magnatas. Desde os cenários até os figurinos, tudo em Succession exala riqueza. Ternos e vestidos ajudam a estabelecer o papel e o status de cada personagem, com destaque para Greg, que talvez seja o alívio cômico do elenco.
Não há cenário pequeno em Succession. Mansões, hotéis de luxo, iates, casas em ilhas isoladas e até mesmo os escritórios parecem fazer o espectador se sentir inferior diante de tanta extravagância. Até mesmo os jatos particulares parecem espaçosos. É tudo do bom, do melhor e do mais caro que o dinheiro pode comprar. Esse é o lema da série.
O arco de cada personagem é preciso, com conclusões coerentes e ao mesmo tempo chocantes. Não há personagens totalmente bons na história. Cada filho possui suas próprias motivações, interesses e ego. Ao mesmo tempo em que todos se amam, também se odeiam igualmente. É uma ironia que, em uma série em que a maioria das tramas envolve acordos entre duas ou mais partes, os próprios irmãos não consigam se conciliar para decidir quem assumirá a diretoria da empresa.
Succession não tem vergonha de contar uma história crua e visceral, no sentido mais dramático da palavra. Roman nunca deixa ninguém esquecer o quão racista e machista é a empresa. O marido de Shiv, Tom, consegue escapar de um escândalo apenas por ser um milionário branco, sem que isso seja explicitamente mencionado. A série sabe o que dizer e o que deixar nas entrelinhas, o suficiente para amarmos e odiarmos seus personagens no momento certo.
Outro aspecto que não pode ser ignorado é a abertura de Succession, uma das mais geniais em uma série. Com estética de filmagens antigas, repletas de granulação, ela retrata a infância dos quatro irmãos em uma época em que Logan já era rico, mas ainda estava construindo seu império midiático. Na primeira temporada, temos uma visão de Kendall sozinho, posicionado para uma foto (quando ele ainda era o mais provável para suceder o pai). As imagens alternam entre os filhos ainda crianças, aproveitando férias, e imagens atuais de Nova York, revelando até onde esse império chegou.
Curiosamente, mesmo tendo uma infância repleta de luxo, nenhuma criança sorri na abertura, evidenciando o quão difícil era ser filho de Logan Roy. O pai nunca mostra seu rosto e sempre parece carregar o peso do mundo em seus ombros. A garotinha que representa Shiv começa distante, observando os irmãos (no início, Shiv não tem muito interesse na empresa do pai). Nas duas últimas temporadas, ela se junta aos irmãos na foto, refletindo sua mudança de objetivo.
A sequência de imagens antigas funciona como um prelúdio dos personagens que vemos hoje. Tudo isso é acompanhado por uma trilha sonora que combina uma batida moderna de hip-hop com uma suave melodia de piano clássico, enfatizando o contraste entre passado e presente e se tornando um elemento icônico.
A conclusão da série é
tão magistral quanto Breaking Bad e convida o espectador a refletir. Succession
deixa espaço para debates extensos sobre os rumos que toma, algo raro
atualmente. Acompanhar a tumultuada saga da família Roy é uma experiência
única, porém desgastante. O trabalho de câmera nos coloca como espectadores
invisíveis, observando de perto o desenrolar dessa família complicada. Terminar
de assistir à série é um alívio, pois o mundo corporativo pode ser instável e
frenético, sem pausas para respirar. No entanto, também é um deleite para os
olhos, pois foi uma experiência memorável, embora seja quase triste ser
abruptamente retirado desse universo após mergulhar tão profundamente
nele.