O terceiro longa da diretora é um grande acerto, que compete com o pesado Oppenheimer. Se a campanha do filme deixou o mundo mais rosa, o próprio filme é uma overdose dessa cor. Barbie vive na Barbielândia, onde tudo é perfeito e confortavelmente artificial. Sua única função é ter uma vida fabulosa ao lado de outras milhares de Barbies: advogada, vencedora do Prêmio Nobel, professora, entre outras profissões.
Barbie vive sua realidade
ao lado de um exército de Kens, sendo o principal deles interpretado por Ryan
Gosling, que cai como uma luva no papel. Uma narração feita por Helen Mirren
introduz o espec
tador a esse mundo e suas regras. Quando Barbie começa a ter
pensamentos depressivos e perde todo o seu glamour ao não conseguir sorrir ou
ao encostar os calcanhares no chão, ela visita a Barbie Esquisita (Kate
McKinnon) em busca de ajuda.
Barbie precisa resolver o problema indo ao Mundo Real encontrar a garota que é sua dona e enfrenta uma crise pessoal. Ken é tão submisso e devoto à sua namorada que acaba indo junto e descobre um mundo dominado pelos homens, decidindo voltar à Barbielândia para instaurar o patriarcado.
Com essa premissa, o filme adota um discurso não apenas feminista, mas também sobre os padrões de beleza inatingíveis estabelecidos pela própria Mattel e seu CEO, interpretado por Will Ferrel. Greta opta por abordar muitos temas de uma vez só e nem sempre consegue dar conta de todos. Ainda assim, o longa tem algo a dizer, e o faz.
Barbie foi produzido em parceria com a LuckyChap, produtora da própria Robbie, que tem como foco viabilizar projetos audiovisuais voltados para representatividade. As críticas a uma sociedade capitalista e machista são cruas, diretas e principalmente necessárias nos tempos atuais.
Sendo essencialmente uma comédia, o longa ainda tem espaço de sobra para ótimas piadas e referências à cultura pop. Tanto suas críticas quanto seu senso de humor são regados pela já icônica paleta de cores mergulhada no rosa do mundo de Barbie, criando um contraste óbvio demais com as cores escuras do mundo real.
Se o slogan da boneca, introduzido logo no início do filme, é “Barbie é tudo o que você quer ser”, o longa não tem a menor vergonha de ser brega, mas é divertido, exagerado e bem construído. O bastante para já se especular ao menos indicações na próxima temporada de premiações, especialmente em termos de Direção de Arte e Design de Produção.
Greta Gerwig tornou Barbie uma espécie de live-action de Toy Story que funciona até melhor que os recentes live-actions da própria Disney. Não que a obra não dê seus tropeços, pois eles existem sim. Mas nada que estrague a experiência das 2 horas de projeção. Isso, inclusive, talvez seja um dos problemas, chegando a ser cansativo no final. Por sinal, para que serve um Allan mesmo?
Mas a criatividade da
diretora americana de 39 anos se destaca. Barbie funciona sendo capaz de
agradar todas as gerações. É um longa que precisava ser feito diante de tantas
superproduções milionárias de heróis e outras franquias já saturadas da sétima
arte, além de transmitir seu discurso empoderado. Barbie cumpre sua premissa e
até justifica a euforia antes de sua estreia.