Uma saga que tinha sido iniciada 10 an
os antes com a volta triunfal de Robert Downey Jr, chegava ao fim, com batalhas épicas e momentos icônicos. Era mais que um filme, era um evento e era fácil encontrar fãs fantasiados, ou pelo menos com camisetas temáticas de seu Vingador favorito.
Naquela época, se alguém me dissesse como a Marvel estaria hoje, eu chamaria a pessoa de louca. A fase 4 do estúdio, na verdade, começou muito bem. A Disney investiu pesado na sua própria plataforma de streaming, o Disney Plus. E junto de um catálogo que já continham as nossas adoradas animações de décadas, fomos agraciados com produções originais. A Disney definitivamente tinha entendido para onde o mercado estava (e ainda está) indo.
WandaVision, e principalmente Loki chegaram à plataforma com muita força, ótimas histórias, e as produções milionárias de sempre. O futuro era promissor. Novos heróis, novos vilões, o tão sonhado multiverso, mini séries para ver em casa. Mas não foi bem assim.
Viúva Negra apresentou uma história fraca, Shang Chi é cansativo e Eternos é uma tortura de 2 horas e meia. A série do Gavião Arqueiro foi morna, e Ms Marvel até começou bem, mas virou uma lambança generalizada. She Hulk teve boas intenções mas beira o brega e o ridículo. Doutos Estranho no Multiverso da Loucura dividiu opiniões mas é sem dúvidas, esquecível. O que realmente se salvou disso tudo foi o Homem Aranha, ou melhor, as suas 3 versões juntas em Sem Volta pra Casa. E nem preciso falar do fiasco de Homem Formiga e a Vespa: Quantumania.
Os Três Problemas da Marvel
O primeiro é a falta de um rosto líder. Até Ultimato, quando se falava em filmes da Marvel a imagem que vinha à mente era o rosto do Tony Stark. Se não fosse ele, ainda poderia ser o de Thor ou o Capitão América. Os Vingadores tinham um líder, tinham um rosto à quem associar.
Tony Stark morreu em Ultimato, e Capitão América voltou no tempo para ficar com Peggy. O Thor sozinho não conta, ainda mais com um último filme tão anêmico. O único rosto que ainda tem força de carregar o legado é o de Peter Parker, que apesar de ter sido introduzido apenas na Fase 3 da saga, é o herói mais querido e popular. E vale lembrar que nas HQs, ele foi o grande líder dos Vingadores.
O segundo problema é a própria continuidade do MCU. Até Vingadores Ultimato, os filmes eram muito bons separadamente. Era possível ver um filme “solto” sem se preocupar com o que aconteceu antes ou o que viria a seguir. Os roteiros consistiam em um começo, meio e fim. A gente sabia que era tudo parte de um plano maior, mas os filmes não dependiam dos outros para serem assistidos ou compreendidos. A Marvel se viciou tanto na sua própria fórmula, que acabou virando escrava dela.
À partir da fase 4 tudo o que temos são capítulos de 2 horas ou em formato de série. Ninguém tem muita ideia do que está assistindo, mas a promessa de que esse filme ou aquela série vai ser importante lá na frente, no momento de concluir a história nos faz assistir. E ainda tem as famigeradas cenas pós créditos. Elas são como o brinquedinho no lanche do Mc Donald’s de quando éramos crianças. O brinquedo é muito mais interessante que o prato principal.
O último problema é o mais preocupante, vem sendo falado desde Viúva Negra. O ritmo desenfreado de produções milionárias, somada à prazos absurdamente apertados afetou severamente os efeitos especiais. Em Shang Chi os efeitos são risíveis, e em Ms Marvel é o reflexo da pressa para finalizar à tempo.
Em Vingadores: Guerra Infinita, o trabalho em cima de Thanos foi absolutamente impecável. O titã louco assusta, bota medo e suas expressões ao longo do filme são claras e precisas. Ao passo que hoje eu me pergunto o que fez um ser humano olhar para o recente Modok, sub vilão de Quantumania, e aprovar aquele visual completamente inaceitável, ridículo e vergonhoso.
Para concluir
A Marvel já domina as salas de cinema do mundo tudo e constantemente é alvo de críticas por sua dominância no mercado. As produções são frenéticas e tudo o que importa é quanto o filme vai faturar. O estúdio precisa urgentemente encontrar o equilíbrio entre suas fórmulas que garantem o retorno financeiro e um bom roteiro que conte uma história. As produções estão cada vez mais enlatadas, portanto, genéricas, sem graça e nada original.
Talvez o ritmo acelerado de produções tenha saturado o mercado e o seu público. Também é importante gerar carência e expectativa para os filmes. Um ano separa o lançamento de Guerra Infinita e Ultimato. Era quase revoltante esperar tanto tempo para saber o que ia acontecer, especialmente após ver os heróis mais poderosos do mundo serem derrotados por Thanos sem a menor dificuldade. Não à toa, o lançamento de Ultimato foi um marco na cultura pop. Chega de produções enlatadas.
Com lançamentos mais esporádicos o estúdio poderia ser capaz de lançar filmes com qualidade de produção ainda maior. Poderia também criar mais hype entre um cada lançamento e com isso ter tanto uma bilheteria mais positiva quanto críticas, e com isso a aceitação do público viria naturalmente.
A Marvel passou 10 anos desenvolvendo os personagens principais, fazendo o espectador se envolver e se apegar a eles, para depois colocá-los à prova para nos emocionar e nos fazer torcer. O que tem acontecido desde a Fase 4 é exatamente o oposto disso. Se antes a crítica era sobre o uso exacerbado da “fórmula” da Marvel, agora o drama reside justamente no outro extremo. Está tudo caótico, fora de controle.
Cabe ao estúdio fazer agir por onde, antes que o público se canse e procure outra coisa para fazer. A Marvel construiu seu império dominante, mas assim como os romanos, esse império vai ruir voando perto demais do Sol.