O projeto conceitual foi uma ambiciosa empreitada da banda, que dividiu as canções em álbuns temáticos. O primeiro, “O Sistema”, trouxe composições que debatem o controle dos indivíduos; já no segundo, “Soma”, o título entrega um paralelo com a droga utilizada no livro “Admirável Mundo Novo”, uma fuga das pressões do sistema. Por fim, “Despertar” é a libertação das amarras anteriores, em um clima mais otimista.
O novo EP foi antecipado pelo clipe “O Tempo”, uma canção que mostra a dualidade dessa medida que rege nossas vidas: embora sirva de imposição dos sistema que aprisiona e pressiona, é por meio dele também que é possível buscar a liberdade. A canção abre o EP “Despertar”, sendo seguida por “Ouse o Amor”, um novo olhar sobre a libertação que o amor representa.
Em “Aqualtune”, DNSM faz uma homenagem à princesa e africana escravizada no Brasil que resistiu ao sistema colonial e à escravidão. Símbolo de resistência feminina negra e avó de Zumbi dos Palmares, ela se tornou também sinônimo das lutas atuais por representatividade. Por fim, a canção “Dormente” faz uma crítica direta ao atual presidente do Brasil, deixando um alerta de que, mesmo após despertar, é possível que alguém tente nos aprisionar.
O debate de temas políticos e sociais sempre moveu a sonoridade DNSM. Formada em 2018, as influências da banda vão de Depeche Mode a Secos e Molhados, Mutantes a Chemical Brothers. Entre guitarras, vocais e synths, os integrantes JJ Zen, Deborah, Mr. Rocha e Hypernoise prezam pelo minimalismo e constroem suas melodias atmosféricas acompanhadas de letras onde assuntos como o consumismo em excesso e as desigualdades sociais ajudam a construir a narrativa.
A filosofia da banda surge, também, na sua estética. A pintura no rosto foi inspirada nos Maxakali, tribo indígena de Minas Gerais que utiliza a pintura corporal como prática de espiritualidade e remete ao mundo dos yãmiy, espíritos cantores que são a transmutação da corporalidade de qualquer Maxakali através da pintura. Os Maxakali se pintam tanto no cotidiano como em ocasiões festivas, que tem o objetivo de valorizar partes do corpo que têm relevância social.
Agora, DNSM está pronta para mais um capítulo de sua trajetória. Ao longo de todo o projeto, os músicos vêm apresentando canções onde as diferenças nos unem e o respeito a si mesmo e ao que nos cerca servem como norte para uma sociedade mais justa e menos violenta. Fazendo de suas canções oportunidades para reflexão e de sua musicalidade uma constante evolução estética, DNSM entrega mais um EP onde explora os limites de seu som.