Quando o assunto é nostalgia Hollywood costuma correr
pro abraço. Há muito tem se falado sobre a falta de criatividade dos roteiristas
que apostam em reboots ou remakes pra atrair as novas gerações para franquias
antigas, no lugar de criar novas boas histórias. A grande maioria fracassa no
processo.
Mas Tom Cruise é o astro de cinema que precisamos e
não sabíamos. Com a sequência de Top Gun, ele faz o elemento nostalgia
funcionar como um relógio suíço. Se o longa original foi um sucesso por conta
de suas filmagens ousadas pra época, a continuação é um amplificador de tudo o
que foi feito no primeiro.
Top Gun: Maverick é a sequência que há muito tempo não
víamos no cinema. Quase 4 décadas após a história que vimos nos anos 80,
Maverick continua testando caças ao invés de ceder ao tempo e ser um militar
atrás de uma mesa. Ele é convocado a instruir novos pilotos para uma missão bem
menos aleatória que o primeiro filme. Um desses pilotos é Rooster (Miles
Teller), filho de Goose, melhor amigo de Maverick em 86.
O objetivo agora, é treinar a nova geração de pilotos
para destruir uma estação feita para enriquecer urânio. Curiosidade: A
simulação de como a missão deve proceder lembra muito Star Wars: Uma Nova Esperança.
A Missão é suicida e até Iceman (Val Kilmer) sabe que sem Peter “Maverick”
Mitchell o fracasso é iminente.
Dentro dessa trama muito mais elaborada, Cruise e o
diretor Joseph Kosinski invocam todo o clima “oitentista” do longa original. O
texto de abertura explicando o significado do termo “top gun”, as cenas
iniciais de militares recebendo os caças de volta ao porta-avião, trilha sonora,
militares dando talagadas de cervejas num bar próximo à base militar e muitos
deles sem camisas jogando futebol na praia. Está tudo lá. Inclusive Rooster
tocando Great Balls of Fire de Jerry Lee Lewis que trás os traumas de Maverick
à tona.
Apesar disso, o longa também não tem medo de envelhecer,
seja no filme em si ou nos bastidores. Os caças atuais são mais perigosos do
que 36 anos antes, e Joseph criou câmeras que pudessem ser encaixadas no
cockpit para transmitir toda a carga de adrenalina e urgência de mais de 2 horas
de duração. É impossível não ficar na ponta da cadeira quando a missão atinge
seu clímax no 3º ato do filme.
Tom Cruise sempre soube ser fiel ao arco de seus
personagens e mais do que isso, sabe humanizá-los. Ele ainda sofre com os
traumas e isso afeta sua relação com Rooster. Mas também é um piloto muito mais
experiente e racional do que era em 86. Os diálogos sobre as dificuldades das
missões mostram que o piloto sabe o que irão enfrentar, o que está em risco e o
peso de suas decisões.
Tom Cruise puxa
os limites de seus alunos, os seus próprios, e os do cinema. Conhecido por
fazer suas cenas de ação sem dublês, o astro de fato tem licença para pilotar
caças, e só não o fez mais no filme porque o governo americano não permitiu. Ele
sabe o que seu público quer ver e entrega com cenas reais filmadas e montadas
com perfeição. Além disso, sequencias de ação costumam ser retalhos colados
freneticamente sem sentido algum, mas, em Top Gun, Joseph e Tom dão tempo para
o espectador respirar e entender o que está acontecendo.
Em uma era de filmes de heróis em que o personagem
toma conta do ator, Tom Cruise é o astro fora da curva. Ele praticamente É Maverick,
assim como ele É Ethan Hunt. Nada de fundos verdes, firulas ou artifícios, a
realidade é o seu artifício. Artifício esse que merece ser visto na melhor sala
Imax à sua disposição.