Tasca aparece perdido, confuso, buscando encontrar as respostas para tudo que aconteceu. Assim começa o EP visual da banda baiana My Friend is a Gray, intitulado “Jasoom”, que sai em parceria com selo feirense Banana Atômica. Toda a parte visual tem direção de Nelson Aguiar.
Com canto gutural e arranjos pesados ao fundo, a faixa de abertura “Tasca” tem influências Whales and Aurora, Cut of Luna, Isis e Neurosis e dá o tom da história que é separada em 4 EPs de 4 músicas cada, que se transformarão em um disco de 16 canções a ser lançado pela banda.
“A princípio iríamos lançar todas as 16 músicas de uma vez só, porém, apesar desse espírito meio ‘foda-se! vamos nadar contra maré mesmo!’, colocamos a cabeça no lugar e decidimos lançar de forma mais organizada. Afinal 16 músicas é praticamente um disco duplo”, conta o guitarrista e vocalista Marcos Cupertino.
Influenciados pela literatura fantástica e terror cósmico, a banda de nome diferentão e muita informalidade, -daquelas que faz música porque ama-, nasceu como muitas no coração de Salvador e da união de dois amigos: “Quando abordei o André Gallo, há alguns anos, falei algo do tipo ‘vamos fazer uma banda que fale sobre alienígenas, conspirações fantásticas, alucinógenos, etc.’ e na hora ele falou ‘fechou, porra!’. Daí foi só juntar com mais dois malucos que de alguma forma compartilhavam da mesma ideia e tava formada a banda. Pra falar a verdade eu nem lembro mais o motivo do nome da banda. Acho que o nome surgiu da desconfiança de que um de nós é um “gray”, revela Marcos Cupertino.
Para quem está por fora do tema, “grays ou cinzentos” são supostos seres extraterrestres que recebem este nome em função da sua cor de pele. Em torno de metade de todos os relatos de avistamentos nos Estados Unidos são descritos como extraterrestres Grey. A origem dos Greys é comumente associada ao Caso Roswell, cidade do Novo México (Estados Unidos) em que dizem ter sido recuperado um disco voador e a reivindicação da abdução de Betty e Barney Hill.
Vem daí a temática das músicas. Seguindo o EP, vamos para “Daikaiju”, em que o personagem Tasca começa a entender o que se passou. Ele fora abduzido, mas não sabe muito bem onde está no tempo e espaço. O nome da canção vem do japonês e quer dizer “monstro estranho gigante”. Monstro que está no céu destruindo tudo em um cenário pós-apocalíptico e gera a reação do protagonista: “Algo precisa ser feito”. Em “Outer Gods”, primeiro single deste trabalho lançado pela banda, Tasca vive a sua derrocada e é forçado a entender que a existência dele, naquela dimensão, é frágil e muito pouco relevante.
Com isso, a banda entrega a mensagem que julga ser a mais importante neste primeiro EP: “A gente perde tanto tempo achando que o universo gira em nosso entorno, mas, na realidade, somos um grãozinho de areia em relação a ele”, comenta Marcos Cupertino.
O EP termina com “Dotar Sojat”, título dado a um guerreiro marciano nas histórias do escritor estadunidense Edgar Rice Burroughs. Aqui Tasca, ainda perdido com todos os acontecimentos, percebe que é hora de usar a raiva como ferramenta para a mudança.
Buscando trazer aos ouvintes essa experiência de viagens intergalácticas e interdimensionais, My Friend is a Gray ou MFIAG, se calca no doom metal, sludge metal, stoner rock, grunge e punk, no que só pode se resumir em um som pesado. Algo um pouco diferente do primeiro disco “Tasca” (2018), que apresenta um lado mais “acessível” da banda. MFIAG está na ativa desde 2015 e é formada hoje por Marcos Cuper (guitarra e voz), André Gallo (guitarra), Tomaz Loureiro (baixo), Derlei Magalhães (bateria) e Rafael Muñoz (synth e programações).