Em 2013 o
cinema brasileiro foi presenteado com a versão da música Faroeste Caboclo,
inspirado na famosa música de Renato Russo que conta a trajetória de João de
Santo Cristo. Como qualquer fã de Legião Urbana sabe, Renato Russo era um
excelente contador de histórias através de sua música. Faroeste Caboclo tem
quase 10 minutos de duração e isso foi o suficiente para adaptar para as
telonas.
E agora,
depois de tanto tempo, foi a vez do casal que é provavelmente o mais famoso na
cultura popular brasileira. Eduardo e Mônica. Talvez o grande desafio do
diretor René Sampaio tenha sido trabalhar com uma música de pouco mais de 4
minutos e dar mais profundidade ao casal que não tem absolutamente nada em
comum.
Ambientado
em uma Brasília dos anos 80, o longa também é uma viagem ao tempo. Figurinos, cenários
e principalmente uma trilha sonora que vai de The Cure e The Clash a Titãs e o
próprio Legião Urbana vão deixar os espectadores mais fanáticos com aquele
gosto de nostalgia. As dificuldades enfrentadas pelo casal, por exemplo, são
enfrentadas através de ligações feitas em orelhão e gestos românticos incluem
uma fita cassete gravada por Mônica como um presente para seu namorado.
Falando
nisso, a dupla Gabriel Leone (Eduardo) e a maravilhosa Alice Braga (Mônica) realizam
um trabalho impecável na encarnação dos dois personagens. Para além da música
que conhecemos, Gabriel e Alice possuem uma química inegável que começa de
forma orgânica e se desenvolve sem pressa criando uma relação íntima com o
espectador.
Ao mesmo
tempo em que Eduardo aprende a amadurecer perto de Mônica, a garota também
aprende os valores de um relacionamento sério. O roteiro com duração de 120
minutos também traz algumas tramas extras sobre a carreira de medicina de
Mônica, a relação com sua mãe e o seu passado. O mesmo acontece com Eduardo que
ganha uma camada mais profunda do que ouvimos na música, como um avô ex-militar
(Otávio Augusto) que entra em conflito com o estilo de vida da namorada de seu
neto. Mas nada é forçado, tudo funciona de forma natural sem ficar chato ou com
tramas desnecessárias.
O longa
poderia ser apenas um romance previsível se não tivesse uma base de inspiração
tão poderosa e icônica. Muito do que não é dito na música foi magistralmente
desenvolvido por um roteiro hábil, carismático e crível. Os fãs vão adorar
pequenas referências à música original seja nos diálogos, nos cenários ou em
sequencias que dão vida à canção. Gabriel e Alice se entregam completamente aos
seus personagens, mostrando que entendem o que esse pode significar para os fãs
de Renato Russo. Um história de amor que é comum e ao mesmo tempo identificável, única e atemporal. Afinal, quem nunca vivenciou um romance e seus contratempos?
Acho seguro
dizer que Renato Russo teria adorado o filme. Ou adorou. O longa emociona, faz
rir, recordar e torcer pelos dois, mesmo sabendo que ficarão juntos. Eduardo e
Mônica é sem dúvidas mais um triunfo do cinema brasileiro, especialmente em
tempos pós pandemia. E sabemos que Renato Russo escreveu outras grandes músicas
que contam ótimas histórias. Resta ver quais dessas músicas ainda serão
transformadas em bons filmes.