“Paixão e outras drogas” é o resultado de um trabalho amadurecido há 15 anos, tempo em que Caian desenvolve sua obra autoral e atua como músico envolvido em variados movimentos artísticos. Das 13 faixas, 12 são escritas por ele – duas delas em parcerias – e uma tem assinatura de Jarbas Bittencourt. “Só sei escrever do que vivo. E vivi um romance muito brutal, para o bem e para o mal, que marcou a minha virada dos 20 para os 30 anos, que me fez enfrentar a mim mesmo, que me reposicionou na vida, como fazem as grandes paixões. Criar esta obra foi parte e fruto de uma longa catarse”, resume Caian.
Sensações individuais, porém universais, revelam alegrias e ruínas, liberdades e vícios da paixão, e surgem na voz de um homem negro que reivindica outras narrativas possíveis para seu corpo, sem que jamais ignore o racismo estrutural brasileiro, evidenciado, inclusive, na chamada “guerra às drogas”, tema também marcado em seu título. Caian não adere ao apologismo, mas se posiciona diante da inevitável conexão entre as lutas antirracista e antiproibicionista, em atitude de desmistificação e denúncia do sistemático genocídio da população negra advindo desta realidade. “Dependentes químicos precisam ser cuidados e não criminalizados. A política de drogas no Brasil é um projeto que nos coloca a todos com o dedo no gatilho diante de comunidades e pessoas vulnerabilizadas. A moral conservadora e hipócrita do proibicionismo se estrutura no racismo que elenca os sujeitos que merecem sua privacidade preservada ou que merecem acusação e morte”, opina o artista.
“Paixão e outras drogas” foi produzido num processo entrecortado no tempo e no espaço pela pandemia da Covid-19 no Brasil, entre os estúdios Toca do Bandido (Rio de Janeiro/RJ), Papiris (São Paulo/SP) e Toco y Me Voy (Salvador/BA), com gravações realizadas entre dezembro de 2019 e dezembro de 2020 e pós-produção durante o ano de 2021. O processo de lançamento foi iniciado em dezembro, com o single e videoclipe “Novo eu”, cantado ao lado de Otto.
O trabalho gráfico e fotográfico do disco, realizado pela TANTO Criações Compartilhadas (Patricia Almeida, Fábio Steque e Daniel Sabóia), busca representar seu conteúdo, numa exposição em espelho da figura de Caian, personagem autobiográfico do enredo.