"Morra como herói ou viva o bastante para se tornar vilão": Eric Clapton se diz contra comprovação de vacina, relembre histórico de fake news e negacionismo do artista


15 de Março de 2020. Declarada a talvez maior pandemia de todas, com milhares de casos, mortes e variantes que se propagam até o dia atual, mesmo que tenhamos vacinas criadas sendo aplicadas diariamente.

Junto com a pandemia, veio à tona, de maneira escancarada, a verdadeira face de muitos pessoas, seja elas conhecidos do dia a dia, amigos, parentes ou famosos que admirávamos profissionalmente, seja por sua atuação a frente as telas ou os solos maravilhosos e belíssimas músicas compostas nos mais diversos formatos. Dentre eles, temos Eric Clapton, compositor e musicista britânico que liderou power trio (Cream), fez parte de superbandas, ajudou a compor um dos solos mais belos dos Beatles (While My Guitar Gently Weeps), além de quase também fazer parte da banda, ter marcado história numa fase importante do rock, entre o meio dos anos 60 e os anos 70, como um dos principais nomes do blues e para muitos, o maior guitarrista da história.

Nesta época, Clapton fez um show em Birmingham, onde ele fez um comentário anti-imigrantista e defendeu argumentos extrema-direita de Enoch Powell, conhecido por seu discurso intitulado Rios de Sangue. De cima do palco, ele disse ao seu público que o Reino Unido estava “superpovoado” e que era preciso votar em Powell para evitar que o país se tornasse “uma colônia negra”. Depois, gritou repetidamente o slogan da Frente Nacional “Keep Britain White” (“mantenhamos a Grã-Bretanha branca”).

Isso, seguido de diversos fatos que ocorreram a partir de 1967, com a fundação de um partido nazista, foi o suficiente para o Rock Against The Racism relembrar que além de ter o blues, estilo criado pelos negros, como seu ideal de música e usasse influência e inspiração de artistas negros como Robert Johnson e B.B King (com o qual gravou músicas e álbuns), era o sujeito, de discurso racista, que fez fortuna com uma versão de I Shot the Sheriff, de Bob MarleyEm 2004, ele chamou Powell de “escandalosamente corajoso” e novamente lamentou a presença de imigrantes no Reino Unido e beeeeem depois, pediu "desculpas", aspas pelo motivo de não sabermos se foi sincero ou não.



Diante de tudo, podemos duvidar. Os anos se passaram e essa história foi esquecida por diversas pessoas (inclusive que vos escreve não sabia) até ano passado quando junto com os primeiros atos negacionistas do artista, podemos ter conhecimento ou relembrar dessa história em matéria do El Pais.

Na primeira vez, ele declarou estar gravando um disco com Van Morrison, onde a renda foi  revertida para ajudar músicos que passam por dificuldades. Atitude bonita, certo? Se não fosse por conta das letras presentes nas músicas e o contexto por trás do álbum. Em Setembro e Outubro passado, Van Morrison já havia composto três faixas contra o isolamento social e em 'Stand and Deliver', faixa feita com Eric Clapton, eles simplesmente comparam o isolamento a escravidão. “Você quer ser um homem livre / Ou você quer ser um escravo?” traz um trecho da música.

Meses após isso, o músico (a contragosto), foi vacinado e comentou que a garantia científica de comprovação não passa de uma "propaganda". Em uma carta aberta, o músico que já chegou a fazer shows e se locomover com cadeira de rodas, por conta da neuropatia periférica, uma doença que age no sistema nervoso e afeta o movimento dos pés e das mãos, o dificultando de tocar, relatou que causou efeitos colaterais “desastrosos”, tendo reações que duraram dez dias, com mãos e pés ficando praticamente inúteis por duas semanas após a segunda dose e ele temendo nunca mais tocar (algo que já teme faz anos, por conta de sua doença. 

Para piorar, o artista ainda comenta que não assiste mais a TV, por conta das informações sobre covid serem uma "lavagem cerebral e que muito da doença está em nossa cabeça", na nossa não sabemos, mas na dele com certeza uma das doenças está na cabeça, bem lá no cérebro.

Seguindo suas declarações, o artista comentou para o canal do Youtube Oracle Films, que suas falas negacionistas e anti-vacina fizeram ter perdidos amigos e ninguém mais ligar para ele: “Tentei entrar em contato com outros músicos, mas simplesmente não tenho mais notícias deles”, afirmou o músico. “Meu telefone não toca, não recebo mais e-mails, é bastante perceptível”. Misturando de forma confusa os dilemas políticos do país, como o Brexit e o governo atual, com a pandemia – sugerindo, assim, tons conspiratórios ao acontecimento do novo coronavírus – e sem apresentar fatos ou provas para sustentar suas posições, na entrevista Clapton afirmou ter um bom “detector de besteiras” para tais questões. “É tudo intuitivo pra mim, eu não sou um acadêmico, não sei nada de fato sobre sociologia, sobre ciência, eu sou um músico”, admitiu, apresentando até mesmo canais conspiratórios de YouTube como base de sua pesquisa.

Continuando a argumentar sem provas científicas, o artista de 76 anos declarou em entrevista para o NME que a vacina poderia afetar a questão da 
infertilidade: "Falar com as minhas filhas sobre o fato delas possivelmente não poderem ter filhos, elas não ligam. É um dos riscos disso. Elas olharão para mim pensando, 'por que você não cala a boca, pai?'"

E, para finalizar, na última quarta-feira, Clapton declarou que não irá fazer shows em locais onde for obrigatório comprovação de vacinação. A fala veio como resposta ao ministro Boris Johnson que, na última terça-feira, informou que as vacinas seriam necessárias para a admissão em casas noturnas e outros locais no Reino Unido.

“Após o anúncio do PM na segunda-feira, 19 de julho de 2021, sinto-me na obrigação de fazer um anúncio meu”, diz a declaração de Clapton. “Eu gostaria de dizer que não vou me apresentar em nenhum palco onde haja um público discriminado presente. A menos que haja providências para que todas as pessoas compareçam, eu me reservo o direito de cancelar o show.", disse Eric Clapton, que tem shows marcados no UK em Maio de 2022 e voltará a fazer uma série de shows nos EUA a partir de Setembro.

Vocês eu não sei, mas eu não consigo separar a obra do artista, do que o artista é. E, fico triste por ter adquirido parte do seu trabalho, mas menos triste por não ter dado meu dinheiro soado para um show de curta duração feito no Morumbi há mais de uma década, executado por um artista negacionista, propagador de fake news e que mostrou a pessoa que realmente é. Triste fim para Clapton.






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