A virada de década chegou acompanhada de um grupo menos psicodélico e etéreo que aquele observado sob a influência de Syd Barrett anos antes. “Meddle” traz o Pink Floyd de volta ao solo após uma longa jornada, como se buscassem referências em novas paisagens capazes de mostrar um novo caminho por terra. Algumas raízes desta postura se mostram presentes na predominância de violões e pegadas líricas que indicavam recados mais objetivos ao público.
Ao lado A, “A Pillow of Winds” e “Fearless” são exemplos desse teor descritivo e contemplativo de uma vida simples, idealizada e vivida à luz do dia. “One of These Days”, por sua vez, traz peso e acidez em sua apresentação “quase-instrumental” (se não fosse a sutil e ameaçadora frase proferida ao minuto 03:36 da faixa). Mesmo diante de tanta surpresa, o grande elemento desafiador do disco está abrigado do outro lado do LP.
“Echoes” soa arrebatadora em todos aspectos possíveis de serem analisados. Pouco mais de 23 minutos de uma viagem que poderia ser convertida em centenas de curta-metragens e exposições de artes plásticas, dada a carga artística ali sintetizada. Uma peça ambiciosa, mas longe de soar pretensiosa ou inacessível a todo e qualquer ouvido. O fechamento perfeito de um começo de década avassalador para a música e para o próprio Pink Floyd.
Há quem defina este disco como o precursor estético de “The Dark Side of the Moon”, lançado dois anos depois. Não refuto a tese de imediato, mas sempre que ouço “Meddle” procuro me deter no universo particular de um disco que, se observado à parte da discografia, seria suficiente para explicar a importância de Pink Floyd na cultura pop mundial. Este ano, completamos 50 anos deste verdadeiro presente, dado por quatro britânicos que souberam onde podiam [e ainda podem] nos levar.
"Eduardo Silva é músico, compositor e jornalista natural de São Paulo-SP. Amante declarado dos discos de ontem, de hoje e de amanhã, registra seus depoimentos com base no impacto que a música tem na vida de todas as pessoas"