Diante do cenário político atual, grandes nomes do metal nacional se uniram para lançar um novo projeto. Revolta é um supergrupo que reúne João Gordo (Ratos De Porão) e Prika Amaral (Nervosa) nos vocais, Moyses Kolesne (Krisiun), Guilherme Miranda (Entombed A.D.) nas guitarras, Castor (Torture Squad) no baixo e Iggor Cavalera (Cavalera Conspiracy) na bateria. Devido as críticas sobre a banda, João Gordo, Guilherme Miranda e Castor concederam uma entrevista para contar mais detalhes desse projeto, contaram seus posicionamentos políticos, a surpresa em ver o alcance que o primeiro single conseguiu, e o que esperam para o futuro com o Revolta.
Anunciado há menos de duas semanas, o Revolta foi criado para "expressar e protestar em forma de música" diante do momento que o Brasil vive atualmente. Como surgiu esse projeto?
Guilherme Miranda: A ideia apareceu do nada, mas eu falei para Prika que eu tinha uma vontade de criar uma música faz tempo. Fizemos uma música para a coletânea Metal Against Coronavirus, e eu queria fazer algo só nosso. Eu queria fazer com alguém que eu tenho amizade e são ídolos mundiais. Mandei para o Moysés o riff, e falei para a Prika que se fosse em português, teria que ser o João Gordo cantando.
Como foi a escolha do lineup?
Guilherme Miranda: Eu a e Prika conversamos muitos sobre isso. Como é época de quarentena e esta todo mundo em casa... Não tínhamos plano B. O plano A era o Moysés, João Gordo, o Castor para o baixo, eu e a Prika não tínhamos dúvida. Então tentei falar com o Iggor Cavalera, eu sempre quis fazer uma música com ele. Entã o Iggor aceitou e colocou a identidade dele na música.
João Gordo: Eu estava sem o contato com os irmãos Cavalera, O Iggor, desde que se mudou para Inglaterra não falei mais com ele. E o Max, todos sabem que não falo com ele desde 97’. Mas só pelo fato de eu estar tocando na mesma banda que o Iggor está tocando, caiu como um tijolo na galera, a música, mexeu muito com a galera e o lineup é avassalador.
Vocês já lançaram o primeiro single “Hecatombe Genocida”, que expõe sem medo algum tudo de ruim que estamos vivendo. Algo que não é inédito na música, principalmente pra vocês que já escrevem muitas músicas sem medo de expor. Escrever e compor sobre esses temas é algo mais fácil para vocês?
João Gordo: Minha letra caiu como uma bomba atômica no meio dos conservadores. A reação da galera chorando na rampa. Eu acho que se mexeu com esses caras, e se eles ficaram putos, é porque a música é muito verdadeira e serviu a carapuça certinho. Porque eu não cito o nome de ninguém na música, se eles estão se doendo... Se a música fosse cantada em inglês não iria levar essa mensagem tão direta na cara das pessoas, iria passar batido. Pois 90% da galera no Brasil não entende inglês. A letra é muito boa, é algo que eu falaria no Ratos de Porão. Fatos do cotidiano ao meu redor. Para mim é fácil escrever esse tipo de música. O Guilherme me deu um texto, peguei duas frases e musiquei.
Castor: Uma mistura de Metal, punk, hardcore, tudo o que a gente gosta
“Se a música fosse cantada em inglês não iria levar essa mensagem tão direta” João Gordo – Ratos de Porão
O projeto é uma forma de protestar por meio da música, protestos podem ser abrangentes e conciliar diversas pautas e exigências. Existe atualmente uma moda do "cancelamento" nas redes sociais, vocês acham que há um limite para a crítica e a liberdade de expressão ou as pessoas confundem as coisas. Pra vocês até que ponto uma pessoa pode ser responsabilizada por dizer o que pensa?
João Gordo: Estamos á beira do fascismo e da censura, se eu pude falar tudo isso até agora e a polícia não veio aqui em casa me prender, então está bom. Se continuar do jeito que está, vai chegar um momento em que ninguém mais vai poder abrir a boca. Falar o que se pensa não tem limites, isso é liberdade de expressão. A partir do momento que começam a te cancelar... Eu quero mais é ser cancelado por esse bando de idiota. Não faço músicas pra eles, não preciso deles.
Guilherme Miranda: Até a capa que a gente fez para a música, o desenho expressa uma ideia. Esses caras estão apoiados em uma ideia, e no caso do Brasil, o fundamentalismo religioso de ultra-direita. Cristianismo fundamentalista foi o único grupo que se organizou durante décadas para tomar o poder e agora tomaram. Nunca imaginei que em 2020 estaríamos discutindo se a terra é plana, tá muito absurdo. Nunca achei que indicar alguém para o poder, para algo tão importante como o Supremo Tribunal... O cara chegar lá e falar que a pessoa tem que ser terrivelmente evangélico, fora a questão do militarismo que está assustadora. Países que partiram para esse fundamentalismo religioso, a gente viu no que deu. O Brasil está se aliando com o que há de pior no mundo. Achamos que isso já tinha acabado, acho que é um retrocesso. O desenho está bem explicado.
Castor: Estamos criticando o
que está acontecendo na atualidade. Criticamos os governos anteriores mas quem
está na linha de frente agora, o ‘Bozo’, e ele vai ouvir da gente. Acho que
devemos defender a gente, a minoria tem que se unir e não ficar se dividendo
para criticar o recente, o que importa é o presente e o futuro. O que passou,
passou.
O Brasil vive hoje uma situação extremamente polarizada com pessoas deixando de ter contato com outras por posicionamento politico. E em relação às bandas que vocês fazem parte, aconteceu algum atrito por questão politica?
João Gordo: Tive um desentendimento com o Ricardo Confessori (ex-baterista do Angra) poelo Twitter mas que não levamos a diante. Tem vários amigos meus do metal que são ‘bolsonaristas’, tem uns que gosto tanto que não consigo deixar de gostar deles por apoiar o Bolsonaro. Não acredito que essas pessoas sejam fascistas ou nazistas, é mais ignorância mesmo. Não admito o pessoal death metal e black metal e apoia cristão fundamentalista. Metaleiro conversador... eu fico pirado com essa história. Acho que a gente tem que se salvar fazendo som pesado e enquanto a gente tiver condições de falar o que quiser nas nossas letras, tem que aproveitar porque um dia isso vai acabar.
Castor: Temos que contestar mesmo, não defender partido.
Devemos defender nossos direitos em primeiro lugar. Se estão abusando do poder,
tem que colocar o dedo na ferida deles, não dá pra defender e ficar com rabo
preso.
Pretendem levar o projeto mais á diante? Lançar mais singles ou um EP? Ou é algo que foi feito como um protesto aproveitando a fase de isolamento social e quarentena?
João Gordo: Quero tocar. Quero fazer mais músicas com esse lineup e continuar a criar com o Iggor.
Guilherme Miranda: Eu estava preocupado em lançar esse single, divulgar para o mundo, mas como são seis pessoas e cada um tem sua banda, não depende só de mim. Mas eu gostaria de fazer mais coisas, tenho composições aqui.
Castor: Se tiver uma brecha, se tiver uma música e der certo a gente lança. Vontade nós temos.