Dir:
Quentin Tarantino
Esta
semana estreia “Era Uma Vez...em Hollywood”. Nono e provavelmente penúltimo
longa do diretor, Era Uma Vez é um deleite para os fãs da forma que só
Tarantino poderia fazer. O cineasta conhecido por reciclar gêneros, agora faz
um ode à Hollywood dos anos 60. Com um elenco de peso que inclui Brad Pitt,
Leonardo DiCaprio, Margot Robbie e Al Pacino, Tarantino aposta mais na comédia
e no drama com um ar pouco mais moderno, mas sem perder não apenas suas
referências cinematográficas, como o seu modo de contar histórias.
Rick
Dalton (DiCaprio) é um famoso ator de filmes western que de repente se vê numa
rotina que pode acabar com sua carreira. Seu dublê Cliff Booth (Pitt) é seu
melhor amigo que o mantém com a confiança em dia para que sobreviva as mudanças
culturais da indústria cinematográfica, onde aos poucos, os tão populares
filmes western começam a dar lugar a novos gêneros.
A partir
daí, a história se desenvolve ao melhor estilo Tarantinesco de se fazer filmes.
Humor ácido, longos planos com longos diálogos que levam o roteiro a diante, enquadramentos
que remetem ao cinema da década de 60, uma trilha sonora impecável, e tantas
referências à cultura pop sessentista, que mesmo para qualquer fã, seria
necessário assistir ao filme algumas vezes para pescar todas elas. Ah, e é
claro, uma cena com belos pés femininos em primeiro plano, um dos fetiches do
diretor. Sendo esse provavelmente o filme menos violento, mas quando precisa
ser, a produção não economiza no sangue e na visceralidade. Tudo isso em um
filme com pouco menos de 3 horas de duração.
O longa
ainda conta com uma lista respeitável de grandes outros atores fazendo breves
pontas. Michael Madsen, Timothy Olyphant, Damon Herriman e por aí vai. Esse
talvez seja um dos filmes mais fáceis de se assistir. O roteiro forte, porém
leve regado a muita comédia que faz com que as quase 3 horas de filme se passem
em minutos. Além da trilha sonora que marcou a época, Tarantino também
ambientou o filme mergulhado em cores quentes e expressivas que retratam a
cultura psicodélica da época. Tanto, que há excelentes personagens hippies que
interferem muito significativamente no enredo.
Talvez uma
das grandes genialidades de Tarantino aqui, seja misturar elementos e
personalidades reais com elementos de ficção da forma como só ele poderia e ousaria
e já havia feito anteriormente com Bastardos Inglórios. Se tratando de Quentin
Tarantino e Leonardo DiCaprio, não seria surpresa alguma se em algum tempo
surgisse histórias sobre atores improvisando em cena. A dupla também já usou
isso a seu favor em Django Livre.
Outra assinatura
clássica do diretor presente no longa é a metalinguagem. Um filme que fala
sobre filmes, a indústria em si, e a cultura das pessoas que nela trabalham. É o
cinema falando sobre cinema de forma hilária e até filosófica. E não seria filme
do Tarantino sem alguma polêmica envolvida. No caso de Era Uma Vez... foram
duas. Primeiro, envolvendo o tempo de tela de Margot Robbie e a segunda, a
forma como o ator Bruce Lee foi retratado no filme. E como sempre, Tarantino as
rebateu explicando que mesmo se inspirando em pessoas e eventos reais o longa é
declaradamente uma ficção.
Era Uma
Vez... é sem dúvida mais um acerto impecável com grandes chances de premiações,
incluindo o Oscar. Apostando em um humor mais explícito e leve, Tarantino mais
uma vez mostra porque é um dos melhores e justifica sua fama de reciclar
gêneros. Sua forma de contar histórias é única, cheia de personalidade e originalidade.
Se seu próximo longa será de fato o último, só resta aos fãs aguardar. Porque
se tratando de Quentin, sempre teremos a certeza de ser presenteados com
verdadeiras obras primas de encher os olhos que o fará entrar para o Hall dos
grandes diretores da história.