Dir: Danny Boyle |
Desde que
me assumi como cinéfilo e passei a estudar cada vez mais a sétima arte, percebo
que uma das maravilhas do cinema é brincar de “e se?”. O cinema tem o poder
implacável de nos apresentar as mais diversas fantasias que marcam nossas vidas.
Seja um filme totalmente fictício ou inspirado em fatos verídicos, o cinema o
faz à sua própria maneira, como provavelmente nenhuma outra forma de expressão
artística é capaz. É só olhar para Hugo Cabret de Scorsese ou mesmo Bastardos
Inglórios de Tarantino. Ambos usam elementos reais para contar uma ficção. E essa
semana, estreia nos cinemas Yesterday, de Danny Boyle (Trainspotting, Quem Quer
Ser um Milionário, 127 horas). A filmografia do diretor inglês de 62 anos é
extensa e digna de muita admiração...e Oscars.
Outra grande
função do cinema é a de causar reflexão. E dentre as várias causadas por Yesterday,
a mais interessante é a de se imaginar como seria o mundo hoje se os Beatles
nunca tivessem existido. O que é um paradoxo pois se eles nunca tivessem
surgido, a gente não saberia como seria a vida COM eles. Entendeu? Reflexão.
Em
Yesterday, Boyle ousou brincar de “e se” de uma das formas mais criativas que
já testemunhei nas telas. E se os Beatles nunca tivessem existido? Jack Malick
é um jovem músico que batalha arduamente pela sua arte. Cansado da difícil vida
de artista, Jack sofre um acidente. No dia seguinte, ao acordar em um hospital,
tudo parece normal. Porém logo ele descobre algo bizarro. Ele é a única pessoa
no mundo que se lembra dos Beatles e mais que isso, a banda nunca nem mesmo
existiu.
E essa é a
brilhante e genial premissa dada por Boyle. Jack começa a “compor” as músicas que
só ele lembra. Em pouco tempo, Jack começa a ficar mundialmente famoso, o que o
deixa completamente angustiado por ver a si mesmo como uma farsa. E isso é
feito de forma primorosa pelo roteiro de Richard Curtis. Yesterday consegue ser
um filme sobre diversos temas. Música, identidade, integridade, amor, drama,
comédia. Tudo numa medida precisa. Boyle simplesmente pegou a banda mais famosa,
querida e influente da história e simulou algo de tirar o fôlego.
E de fato,
não é preciso ser um Beatlemaníaco para perceber que um mundo sem eles, seria
um mundo infinitamente pior. Jack se vê obrigado a decidir a abandonar a fama e
ser feliz consigo mesmo e com Ellie (Lily James) ou seguir em frente para
garantir que o mundo seja presenteado com tantas canções impecáveis. A jornada
de Jack é realista, divertida e dramática. O longa ainda conta com uma
participação significativa e positiva de Ed Sheeran atuando como o próprio
músico que também garante boas sequencias e desenvolvimento para a história.
Mesmo com
tantos aspectos reais, Boyle consegue surpreender o espectador com o lado
fictício. Com o drama tendo mais peso, é fácil se emocionar. Cada música feita
por Jack gera comentários tão sensíveis sobre sua originalidade e beleza que realmente
nos faz sentir como se estivéssemos ouvindo aquelas músicas pela primeira vez.
E então vem as doses certeiras de comédia para aliviar os momentos tocantes. Em
especial, uma cena no último ato do filme, que de tão inesperada e bela, que
deixo o suspense aqui, evitando assim o spoiler e instigando o leitor a
assistir ao filme.
E tudo
bem: eu como fã de Beatles e redator de um site que leva um dos apelidos mais icônicos
da banda no nome, posso ser suspeito para falar. Mas Yesterday é um filme que deve
e merece ser visto. Seja você um Beatlemaníaco ou não.