Crítica do filme Anos 90


Dir: Jonah Hill


Foi uma surpresa como só o cinema pode proporcionar. Chegar para assistir Rocketman, a cinebiografia de Sir Elto John e acabar vendo outro filme por conta do defeito na projeção da sala onde passariam o filme do astro inglês. Os deuses do cinema me colocaram no caminho do filme Anos 90, longa escrito e dirigido por ninguém menos que Jonah Hill. Isso mesmo, aquele gordinho do hilário Superbad e a mão direita de Leonardo DiCaprio em O Lobo de Wallstreet. Aqui, Hill faz sua estreia em um longa atrás das câmeras e o resultado é uma das surpresas mais agradáveis do ano.


Aos 13 anos, Stevie é um garoto tímido, quieto, sem amigos, um excluído qualquer. Ele conhece um grupo de skatistas onde começa sua busca por um grupo para pertencer. O longa que dura pouco mais do que 90 minutos consegue explorar diversas camadas não apenas de Stevie mas de seus amigos. Além de um grupo para se sentir acolhido, o roteiro é belo e poético ao abordar problemas familiares, aceitação, respeito, amor, amizade e os verdadeiros valores da vida.


Anos 90 é tão bem ambientado que até o formato da tela em 1:33 deixa claro que estamos completamente submersos na época. A trilha sonora repleta dos mais variados estilos musicais e a fotografia também garantem a viagem nostálgica. Com isso, a história mostra o pequeno Stevie conquistando seu espaço e o respeito dos amigos e a independência de uma família desajustada.


Pouco a pouco entendemos o que separa Stevie de sua gangue, assim como o que os une. Tudo de formal natural, realista e sem a menor pressa de acontecer. Nenhuma cena é desnecessária e tudo que é mostrado acrescentam e fazem com que a trama se desenvolva sem grandes dificuldades.


Uma das principais camadas é sobre o que significa crescer e amadurecer em meio a tanta pressão dos amigos. E Jonah Hill lida com maestria dramas que não se preocupam nem tentam em passar qualquer lição de moral comumente embutidas em temas assim. Todos da gangue são mais velhos que Stevie e se desafiam de todas as formas. Stevie tenta de tudo, e mesmo sem ter sucesso na maioria, a coragem de tentar faz com que os outros o acolham ainda mais. O que também quebra os estereótipos do jovem americano delinquente urbano. O foco e o acerto são outros: não cair na obviedade moralista que levaria esses jovens pro mundo do crime e da decadência.


O roteiro é muito mais humilde que isso. Através da perspectiva inocente e ingênua de Stevie, vemos a construção da amizade e os rituais que levam a isso, como aprender a beber, fumar e compartilhar a alegria da primeira transa. Hill traz toda uma influência do cinema independente da década “noventista” mostrando tanto o que se tem de melhor do estilo, quanto um domínio evidente do resultado final. Anos 90 é um grande acerto raro no cinema atual que prende o espectador do início ao fim proporcionando belíssimos momentos que merecem ser visto. Agora, é torcer para que Jonah Hill faça mais filmes tão encantadores quanto seu longa de estreia.
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