Dir: Samuel Galli
Filmes de terror na última década tem sido um grande ponto
de polêmica. Com temáticas predominantemente sobrenatural, o sub-gênero criou
seus próprios clichês e convenções que logo se tornaram repetitivos e
previsíveis. Com isso, tem sido difícil ver um filme que se destaque e consiga
abordar o tema sem cair nessas convenções. Ainda em 2018, o fãs do gênero foram
presenteados com Hereditário que ainda conseguiu trazer novidades e uma nova
áurea de medo mas que também escorrega em alguns clichês.
Portanto foi uma surpresa ir ao cinema assistir Mal Nosso,
novo longa do já consagrado Samuel Galli. Há muitos anos não surgia um filme de
terror que envolvesse o sobrenatural de forma totalmente genial, imprevisível e
realista. É difícil falar do filme sem dar spoilers, em uma trama que é repleta
de reviravoltas. Mas basicamente, Arthur é pai de Michele e contrata um
assassino profissional para eliminar um suposto demônio que habita o corpo de sua
filha. Falar mais que isso é dar um spoiler a nível de O Sexto Sentido.
Desde seu início, o longa deixa bem claro a que veio.
Iluminação baixa mas com cores absurdamente fortes ambientam o espectador num
clima de estranheza constante. A trilha sonora de sintetizadores que muito
lembram a série Stranger Things nos submerge ainda mais nesse desconforto. O
roteiro não tem a menor pressa de acontecer e os personagens falam somente o
necessário para mover a história adiante. Absolutamente todos os aspectos técnicos
levam o espectador para um mundo sombrio e agoniante.
A narrativa, mesmo não sendo totalmente linear se faz
entender perfeitamente bem e garantem as reviravoltas que não apenas são de
fato imprevisíveis como fazem sentido e justificam os acontecimentos passados e
futuros. A maquiagem então é um caso à parte, sendo muitíssimo superior aos
efeitos visuais gráficos em filmes Hollywoodianos, tornando toda a experiência
muito mais realista e assustadora e a produção não economiza na quantidade de sangue
e em mostrar cenas de violência explícita e perturbadoras.
O interessante em Mal Nosso também se deve ao fato de
mostrar que nem sempre as forças sobrenaturais são necessariamente os
principais e mais cruéis dos vilões. Apesar de toda brutalidade e horror presente
em cena, Mal Nosso encontra espaço de sobra para entregar personagens dramáticos
e humanos. Ninguém é herói ou age para ser um. São seres humanos resolvendo
problemas fictícios, mas com carga emocional real. E nisso vale exaltar as excelentes
atuações de Ademir Esteves e Ricardo Casella. Tudo na medida mais do que certa
para um filme tão ousado e intenso.
Mal Nosso ainda consegue trazer um clima pesado no nível de
alguns dos filmes mais clássicos de terror como O Exorcista, O Iluminado,
Psicopata Americano e o já citado Sexto Sentido. Mal Nosso deve ser tratado como
um marco no cinema brasileiro e destaque entre filmes de terror e suspense. Mas
esteja preparado para algumas da cenas mais brutais e violentas já vista em uma
tela de cinema. Em um filme de apenas 90 minutos, Samuel Galli conseguiu dizer
muita coisa ao contar uma história brilhante e coerente. Esse é com certeza um
filme que deve e merece ser visto