Dir: Adam McKay
O novo longa do já indicado Adam McKay é algo único e raro. McKay
autou como produtor em uma extensa lista de filmes em seu currículo dos mais
diversos gêneros de filme. Dessa vez, com Vice, ele conta a história de Dick
Cheney, vice presidente mais poderoso da história da política dos EUA. Entretanto
não simplesmente um filme biográfico. Assim como em seu longa anterior A Grande
Aposta, o diretor usa muito humor negro e cortes que ilustram o desenvolvimento
da trama, através de um ritmo de edição tão genial que torna-se um grande concorrente
à estatueta de melhor montagem.
De certa forma, o longa também funciona como um “House of
Cards” da vida real. Pessoalmente tive a sensação de estar assistindo uma
versão dramatúrgica do documentário Zeitgeist, que fala sobre conspirações
políticas. O fluxo da trama é ao mesmo tempo tenso e divertido de assistir. McKay
apostou mais uma vez no elenco que em grande parte repete seu sucesso anterior
(A Grande Aposta) e é claro que funcionou novamente . Christian Bale mais uma
vez passa por uma caracterização que também justifica sua indicação a Melhor
Ator, e o mesmo vale para Sam Rockwell (Melhor Ator Coadjuvante) e para Amy Adams
(Melhor Atriz Coadjuvante). E além deles, Steve Carell também tem seu papel
importante na história.
O filme ainda conta com a narração de Jesse Plemons
(Breaking Bad e Black Mirror). Um fictício veterano da guerra no Afeganistão chamado
Kurt que ajuda o espectador a entender quem é quem nos jogos de poder político
e o objetivo de cada um. Alias, esse é um dos grandes temas abordados pelo
roteiro, o de que a política nada mais é do que um grande jogo de poder
internacional que corrompe quem quer que esteja envolvido. Não há nada de “o que
é melhor para o país” ou “o que povo quer”. A única coisa que há aqui é a
obsessão pelo poder e controle absoluto na política.
O roteiro parte do ponto mais importante da história moderna.
O 11 de setembro, e serve como gancho para todo o resto da narrativa. O antes e
o depois. Tudo o que levou à fatídica tragédia e suas consequências. Mas um dos
grandes impactos que o filme proporciona é o tamanho do poder e influência de
Cheney. Um político frio, calculista, sério e a cima de tudo implacável. Dick Cheney
é mestre em entender as pessoas de seu interesse e manipula-las para alcançar
seus objetivos.
Vice é um longa que, apesar de biográfico diz respeito à
todos nós e também é indiscutivelmente atual que deve e merece ser visto. E
mesmo o fator biográfico não é o foco, já que, com a narrativa em off de Kurt,
e seus cortes ilustrativos, o filme também carrega um tom muito forte de
documentário. E isso tudo é feito de forma tão magistral por McKay e sua equipe
que a complexa trama política e seus muitos personagens não permitem que a história
se torne cansativa e incompreensível. McKay teve aqui uma grande sensibilidade
em, ao denunciar as atrocidades dos políticos americanos, fazer de forma leve,
divertida e a cima de tudo acessível.
Chega até a lembrar um pouco um dos longas concorrentes do
ano, Infiltrado na Klan (Spike Lee). Digo isso por serem histórias reais
contadas de formas acessíveis, mas que não falham em carregar um peso dramático
de atualidade. E em ambos os longas, é praticamente impossível não sair da sessão
sentindo um grande impacto emocional que faz o espectador pensar e refletir
sobre a ganância do homem. Sem dúvidas, McKay provou porque merece seu lugar ao
sol em Hollywood e mais ainda, porque merece as oito indicações pelo seu novo
trabalho.