Dir: Julian Schnabel
No ano passado o cinema foi agraciado com um dos mais belos
filmes já vistos. Com Amor, Van Gogh. Longa de animação que explora o misterioso
passado e morte de um dos pintores mais importantes da história das artes.
Filmado em live-action, adaptado em animação através da rotoscopia usando o
estilo de pintura de Van Gogh, o longa deixa claro porque o legado de Van Gogh
é único.
E agora mais uma vez, o cinema foi presenteado com o filme
No Portal da Eternidade. O sétimo longa de Schnabel é a cinebiografia do
pintor. E é praticamente impossível errar ao falar sobre Van Gogh. Em primeiro
lugar, Willem Dafoe se tornou o pintor. Sua caracterização e performance
entregam um resultado à altura do peso e da responsabilidade de Vincent.
Entretanto, não espere uma biografia fácil e clichê. O roteiro foca nos
sentimentos e na forma como Vincent encara o mundo e seu caos. E a direção de
fotografia reforça majestosamente a perspectiva do gênio incompreendido através
de planos em 1ª pessoa e até longas sequencias que contemplam a natureza que
traduzem os cada sentimento do pintor.
As cores do longa são altamente saturadas fazendo com que o
espectador se sinta não só na mente criativa de Van Gogh, mas também em suas
pinturas e paisagens de tirar o fôlego que inspiraram suas obras, além de
contar com personagens que também, mais tarde, se tornariam algumas das
pinturas mais icônicas.
A questão aqui não é nem desmistificar as dúvidas que
existiam por trás da vida conturbada de Vincent, como foi feito em Com Amor,
Vincent, mas, fazer-nos entender porque ele foi o típico gênio renegado por uma
sociedade afogada em padrões hipócritas que não aceitavam suas ideias nem
compreendiam sua visão artística. Ainda assim, é possível identificar muitas
passagens que condizem com o drama de animação lançado ano passado.
O roteiro assume com tanta convicção o protagonismo do
pintor, que quase não vemos muito dos outros personagens que faziam parte de
sua vida. E além disso, em grande parte do filme, Vincent nem mesmo fala muito.
Dono de uma personalidade extremamente tímida, reprimida, sensível e quieta, é
fácil entender desde os primeiros minutos que Schnabel quer que tenhamos uma
experiencia muito mais emocional, sensorial e sutil do que um filme irrigado
com diálogos e clichês que comumente vemos em filmes biográficos.
Mas, não aqui. A cinebiografia de Van Gogh é diferente de
tudo que já se viu em filmes desse gênero e é um enorme acerto da primeira à
última cena, fazendo com que seja uma pena que o longa não tenha recebido mais indicações além da de Melhor Ator para Dafoe. Willem Dafoe se entrega brilhantemente ao seu papel. Nas sequencias
onde ele começa a pintar ou mesmo desenhar rascunhos são tão tocantes e sensíveis
que de fato o espectador se sente numa viagem no tempo cultural. É possível ter
a sensação de que estamos vendo a história acontecer bem diante de nossos olhos.
Não resta dúvidas de que seus quadros são o portal da eternidade que imortalizou
o trabalho de Van Gogh.