Foto: MJ Kim |
A sequência parece cansativa para um senhor que, embora teorias sustentem o contrário, se trata de um ser humano. “O que explica isso, Paul? Aos 76 anos, amigos seus já estão em casa brincando com os netos. Não seria por dinheiro, certo?” Segundo o jornal The Sunday Times, Paul segue sendo o artista mais rico do Reino Unido, com £ 780 milhões, algo como R$ 3,2 bilhões. “Não, não é pelo dinheiro”, ele sorri. “Sabe, eu gosto das grandes plateias, estar com os fãs pelo mundo me dá energia, e ainda consigo passar um bom tempo com meus netos. É possível viver as duas coisas. Se eu fosse um pintor, gostaria de continuar pintando por toda a vida. Você está certo, eu não tenho que fazer isso o tempo todo, mas é só o que eu sei fazer desde garoto.”
Ao mesmo tempo que os brasileiros ficam felizes com sua vinda, uma multidão de fãs que não podem pagar pelo ingresso lamentam. Os preços dos bilhetes são bem caros no Brasil. Não seria a hora de fazer uma apresentação gratuita por aqui?
Sabe que uma vez, há poucos anos, fizemos um concerto e liberamos sua transmissão para a TV no Brasil, se não me engano, para uma emissora chamada Globo. E então, até mesmo as pessoas que viviam nas pequenas vilas conseguiram ter acesso ao show. Às vezes, fazemos esse tipo de coisa. Já cantei assim em Roma para mais de um milhão de pessoas nas ruas e, no México, para umas 500 mil. Seria ótimo conseguir o mesmo no Brasil.
Ainda hoje, John Lennon é considerado por muitos o rebelde da banda e você, o conservador. Existe algo de certo nessa percepção?
Acho que, de alguma forma, sim. Mas o que aconteceu foi que as pessoas interpretaram a história de muitas formas. Às vezes, eu me tornava um homem de direita conservadora e, em outras, eu era a esquerda, fazendo algo revolucionário. E foi assim também com John. Poucos viam, mas ele também podia ser bem “right wing” (de direita). Eu tive algumas experiências que mostraram que não devemos julgar alguém tendo como base apenas um período de sua vida. Os dois lados conviviam nos Beatles, e é por isso que conseguimos falar com todo mundo.
Vai tocar Back in Brazil nos shows?
Estamos ensaiando, não sei se teremos tempo de aprendê-la até lá. Espero que sim.
Paul, qual seria a sua banda dos sonhos? Não vale colocar ninguém dos Beatles, ok?
Ah, ok, deixe-me ver. Na bateria: John Bonham (baterista do Led Zeppelin, morto em 1982). Nos teclados... Billy Preston (músico que toca órgão em ‘Let It Be’, morto em 2006). No baixo (faz silêncio): John Entwistle (baixista do The Who, morto em 2002). Na guitarra, Jimi Hendrix (morto em 1970). E no vocal, Elvis Presley (segundo Paul, o imortal).
Paul, você tem uma música no disco novo, 'Despite Repetead Warnings', que fala de um capitão de um navio que, sem se preocupar com as advertências do aquecimento global, caminha para o fim com sua tripulação. O presidente do Brasil, neste momento, é um capitão com inspirações em Donald Trump, o homem a quem você dedicou sua música.
Eu não sei o suficiente sobre seu novo presidente para fazer comentários, mas, geralmente, olhando para o mundo, há um infortúnio no ar. Muitas pessoas estão assustadas, com medo, e uma grande preocupação nas Américas e na Europa tem relação com a questão dos imigrantes e dos refugiados. É muito fácil dizer: “Hey, eles vão roubar nossos empregos”. Mas, se você olhar para os Estados Unidos, verá que todos ali são imigrantes, cada ser na América de hoje é um imigrante. Eu vejo nações sendo construídas com pensamentos de antissemitismo e políticas anti-imigratórias. Não posso falar do Brasil, mas vejo claramente a ascensão de políticos que causam medo.
Roger Waters foi vaiado no palco ao falar sobre suas convicções políticas e uma questão apareceu ali. O que vale? Estar ao lado dos fãs que pagam para vê-lo ou ao lado do que você acredita ser a verdade?
Sempre ao lado do que acredito. A situação política em muitos países está difícil, e aqui no Reino Unido não é diferente. Estamos passando por grandes mudanças na América, Itália, França, Alemanha. É tempo de falarmos a verdade.