Dir: Rob Marshall
Muito tem se discutido a respeito dos remakes e dos reboots.
A ponto de alguns acusarem Hollywood de estar sem criatividade ou passando por
algum tipo de crise com roteiristas. No caso da Disney, não é nenhuma novidade
que o estúdio vem reciclando seus clássicos, além de também lançar longas
originais. A questão são sempre os filmes mais amados pelo público que sempre
passam por uma prova de fogo de aceitação. E o clássico Mary Poppins (1964)
acaba de ganhar um reboot. Ou seja, é uma continuação do original com os mesmos
personagens, o mesmo universo etc. O primeiro acerto já reside no fato de ser
um reboot. Julie Andrews foi icônica, e as sequencias misturando atores reais
com animação foram absolutamente revolucionárias para a época. Lembrando que a
obra original é a Disney em sua pura magia: personagens carismáticos, canções
que se tornaram hits e ainda rendeu 12 indicações ao Oscar, tendo levado 4
estatuetas. E só para concluir, a babá magica ainda é um dos musicais há mais
tempo na Broadway e tem o filme Walt nos Bastidores de Mary Poppins (2014) que
conta a história da luta de Walt Disney pelos direitos autorais do livro para
leva-lo às telonas. Poppins é um sucesso absoluto.
Não à toa a Disney fez uma ótima escolha ao apostar no longa
como o filme natalino do ano. Rob Marshall acerta na direção brilhantemente
apesar de alguns defeitos. O destaque do filme vai sem dúvida para Emily Blunt,
que vive uma Mary Poppins simplesmente perfeita. Evidentemente a atriz foi
atrás do papel interpretado por Julie Andrews e Blunt dá um show de personagem.
A história é em sua maior definição um reboot. O que significa que tudo que foi
concebido em 1964 foi preservado, mas também atualizado. É impossível assistir
o longa e não se encantar com as novas sequencias que colocam os atores em um
mundo animado. Se antes a revolução foi coloca-los no mesmo frame que um
desenho, agora a beleza visual está na rotoscopia. Técnica de animação onde as
cenas são gravadas live-action e depois artistas pintam e colorem frame a frame
todo o filme.
Apesar de alguns momentos cansativos e arrastados, o filme
mantém toda a magia e carisma do primeiro, que também conta com sequencias
cansativas para ser bem justo. E não tem como falar de Poppins sem falar de
música. Toda a energia musical presente na Broadway foi majestosamente
transmitida diante das câmeras. Inclusive com direito a possíveis indicações ao
Oscar.
O roteiro não é original mas faz jus à nostalgia do
espectador. Ambientado em Londres na época da grande depressão, a família
Banks, agora constituída apenas pelos irmãos Michael e Jane precisam criar sua
família. Michael está viúvo e prestes a perder o emprego, no banco. As crianças
tentam ajudar mas sempre acabam pisando na bola. Até que uma tempestade, uma
pipa e uma família à beira do colapso recebem a visitada de Mary Poppins. A
história não é nova, mas funciona, encanta e é um filme perfeito para o natal
em família.
Entretanto não espere ver Julie Andrews. A própria atriz
recusou sua ponta por querer entregar o manto à Emily Blunt com todas as
honras. E volto enfatizar o quanto Blunt fez um trabalho certeiro e livre de
qualquer julgamento. Assim como o figurino e fotografia, que colocam o
espectador ainda mais imerso no mundo de Poppins. Isso ajuda um pouco com
alguns momentos que poderiam ter sido evitados que são irrelevantes para o
andamento da narrativa tornando a jornada mais maçante do que seria o ideal.
Mary Poppins retornou com toda sua maestria e beleza. Seja
pelas mãos de Marshall como diretor ou pelo carisma de Blunt. Mesmo com
tropeços em sua volta, Poppins não hesita e mantém o humor, carisma e mesmo o
sarcasmo de babá mágica que age como se suas habilidades não fossem nada demais
dando mais humor e gosto para as situações. Poppins é implacável, divertida,
diva e amada. Por mais que sempre seja arriscado falar em retorno, o de Mary
Poppins vale muitíssimo a pena esperar.