Durante o ano de 2018 recebemos muitos trabalhos de bandas brasileiras, seja clipes, singles ou discos completos. Alguns desses discos recebidos por nós via correio ou email resolvemos destacar para vocês, além de discos que não recebemos, mas possivelmente estarão em diversas listas de melhores do ano.
Erasmo Carlos - O Amor É Isso
Deixando pra trás a fama de mal, Erasmo lançou doze faixas inéditas num disco que traz participação de nomes como Emicida, Samuel Rosa, Arnaldo Antunes, Adriana Calcanhoto, Nando Reis e Marisa Monte. Se para nós a fama era essa, para sua esposa ele escreveu 111 poesias (uma a cada domingo) ao longo de dois anos e que o inspiraram a fazer a tracklist do disco.
Outra coisa diferente, além de dar uma mudada em sua fama, foi que pela primeira vez, Erasmo lançou um disco somente em mídia digital. Logo ele, de quando os LPs eram a única opção.
Texto por: Elio Sant'Anna
Menores Atos - Lapso
Menores Atos - Lapso
O trio carioca foi um grande destaque no cenário underground do rock nesse ano. No segundo disco, o Menores Atos continua o trabalho de Animalia de 2014, um rock pautado em letras fortes sobre relacionamentos, sentimentos e confusões mentais com refrões explosivos pra se cantar a plenos pulmões. Riffs bem trabalhados de guitarra conduzem o som do trio, que conta com uma cozinha de baixo e batera afiadíssima.
As músicas do novo trabalho do Menores Atos funcionam muito bem ao vivo, a conexão da banda com o público após o lançamento deste álbum não só se manteve como se fortaleceu, algo simplesmente ímpar e certeiro.
Texto por: Anna Moreira
NavesHarris - A Flash Of Feeling
Texto por: Millena Kreutzfeld
Capital Inicial - SonoraNavesHarris - A Flash Of Feeling
Este é o primeiro álbum do duo formado por Jair Naves (São Paulo) e Britt Harris (Los Angeles). O disco conta com os singles En Route To Rio, If So e Sleep. O disco retrata como ambos lidam com a distância e o reencontro e a forma como propagam a paixão para os ouvintes.
É interessante como os opostos podem se completar neste disco: inglês e português, a voz suave de Britt contrastada com a grave de Jair, criam uma sonoridade única, capaz de transportar o ouvinte para um lugar calmo, como em a Secret Code, música que abre o disco.
Texto por: Millena Kreutzfeld
Seis anos depois do lançamento de Saturno (último disco de estúdio da banda), Capital Inicial deixou de lado o lançamento de singles e EPS (como o Viva a Revolução - 2014), para investir um ano inteiro no 14º disco de estúdio, lançado dia 14.
Ampliando seu leque de parcerias, a primeira delas foi essencial para concretização do trabalho: Lucas Silveira (Fresno) não somente foi produtor do disco, como também canta uma música, compôs Universo Paralelo (música que indicou qual seria o conceito do Sonora) e gravou o disco num modo alternativo, longe dos padrões convencionais, sugerindo coisas como sonoridades e arranjos para o disco. Além dele, nomes como Fernando Badauí e Phill Fargnoli (CPM 22), Gustavo Bertoni (Scalene), Thiago Castanho (Charlie Brown Jr.), Emmily Barreto, Rafael Brasil e Cris Botarelli (Far From Alaska), Deb and the Mentals e Tuti AC fazem parte do disco, seja no vocal, em instrumentos ou na participação do clipe, como no caso de Velocidade.
Tudo isso resultou na mudança de sonoridade que não foi rejuvenescida, mas sim atualizada para o estilos das bandas de hoje. Seja na voz rasgada de Dinho na faixa de abertura, somada a uma cozinha destacada e um vocal do Scalene que tenha encaixado perfeitamente na música, ou com Badauí (que não é novo na cena, mas foi impecável em Velocidade) e Far From Alaska (Emmily Barreto assina e canta Invisível). Dinho fala que escolheu cada um deles, pois percebeu que via cada um nas respectivas canções e de fato, as escolhas foram perfeitas.
Texto por: Elio Sant'Anna
Molho Negro - Normal
A banda de Belém do Pará lançou Normal neste ano, seu terceiro álbum de estúdio. O trabalho segue com a sonoridade e composição que vêm sendo construídas na discografia do grupo — guitarras pesadas se mesclam com um pop de respeito e letras objetivas, críticas e irônicas.
O Molho Negro cumpre a função de executar o Rock n Roll mas com o choque e o poder de observação na manga. No disco "Normal", o Rock se apresenta aqui como uma saída e não como um fim. Essa possibilidade de redenção pessoal e de construção coletiva muitas vezes atrapalhada pela noção, em voga no momento, de que a música pop é escapismo adolescente e não pode ser tratada como nada mais que isso. Pelo contrário. O Molho Negro expõe suas canções como alguns dos mini-manifestos surgidos dessa capacidade de observar a realidade de um país cada vez mais sombrio e sem perspectivas.
A mudança é temática e também sonora. Uma engenharia de som adulta e obscura, que tangencia o clima de tensão social que dá o tom dessa nova fase do Molho Negro. O recado é direto.
Texto por: Anna Moreira
Daparte - Charles
Daparte é formado por Juliano Alvarenga (filho do Samuel Rosa) e João Ferreira na voz e na guitarra, Bernardo Cipriano (filho do Renato Cipriano), Túlio Lima na voz e no baixo e Daniel Crase na bateria.
O “nome de gente” dado ao álbum acompanha a própria história contada pelas canções. “Depois que colocamos as músicas em ordem, notamos que elas transmitiam sentimentos diferentes: algumas são mais tristes, outras mais alegres, umas mais viajadas. O disco tem essa identidade própria como se fosse uma pessoa mesmo, com várias emoções e personalidades, então nada mais justo que batizá-lo assim”, explica o baterista Daniel Crase.
O disco conta com o single Guarda Chuva, que foi composta por João quando ele tinha 17 anos. Além de algumas canções terem sido compostas antes mesmo da banda ser formada, o que reforça o trabalho do grupo, é que 4 dos 5 integrantes dividem os vocais durante todo o disco.
Texto por: Millena Kreutzfeld
A sonoridade do novo trabalho passeia pelas mais diversas referências do som pesado, bebendo na fonte do rock setentista porém com uma forte pisada nos anos 90 grunges. Já o conceito, vem do universo das religiões africanas, especialmente do vodoo.
Lowa foi gravado no Estúdio Costella, em São Paulo, e tem produção de Gabriel Zander. Suas oito faixas não se prendem a limites geográficos, o que faz com que o Disaster Cities possa ser confundido, sem esforço, com uma banda sueca, inglesa ou do interior dos Estados Unidos. Esses são fatores que apenas deixam o trabalho do quarteto ainda mais forte, pois a banda mostra um nível altíssimo em seu disco de estreia, fazendo com que o queixo teime em não ficar no lugar.
Entre as faixas estão “Brave New Heart”, “Heartbroken Robot” e o single “Right Next to You”, exemplos claros de como incendiar um palco e os fones de ouvido ou até mesmo a vitrola com Disaster Cities.
Leno - Vida & Obra de Johnny McCartney (LP)
47 anos. Este foi o tempo que levou para o disco ser lançado em seu formato original: LP!! Em 1971, um EP foi lançado por aqui e em Portugal, numa pequena tiragem que se tornou alvo de colecionadores.
Em 1994, foram encontrados Tapes que traziam gravações realizadas entre final de Novembro de 1970 e metade de Janeiro de 1971. Finalmente, um ano depois, o disco havia sido lançado em CD. Mas isso ainda não era o desejo dos colecionadores e 23 anos depois, o Selo 180 e a Record Collector Brasil levaram as lojas e aos colecionadores uma prensagem limitada de 1000 discos (500 preto e 500 branco) do LP 12''.
Grande amigo de Leno, Raul Seixas (sob o apelido de Raulzito Seixas), assina co-autoria de 6 músicas, praticamente metade do disco.
Texto por: Elio Sant'Anna
Murilo Sá - Fossa Nova
Após estrear com o elogiado álbum Sentido Centro (2014) e lançar Durango! (2016), o compositor, cantor e produtor baiano Murilo Sá ressurgiu com seu terceiro disco, Fossanova, que explora sob diferentes pontos de vista as contradições e conflitos das relações humanas.
Apresentando uma influência mais brasileira do que os trabalhos anteriores, mas ainda misturando rock e pop psicodélico — com uma sonoridade moderna e por vezes lo-fi —, o novo álbum encara feridas de um rompimento amoroso para transformar dores e delírios em canções de aprimorado senso melódico. Essa proeza fica evidente nos singles lançados em agosto, “Canção do Fim” e “Tempos Esquisitos”, e na faixa-título “Fossanova”, em que Sergio Mendes e Gilberto Gil se encontram para tomar um trago e falar mal da vida.
Todos os instrumentos foram gravados por Murilo, que também mixou e produziu o álbum, tarefas que desempenhou trancado por alguns meses em seu quarto, na região da rua Augusta, em São Paulo. Das dez faixas do álbum, apenas uma não é de sua autoria: a canção “Cara”, do compositor baiano Heitor Dantas.
O álbum ainda conta com participações especiais de dois amigos. Tatá Aeroplano se junta a Murilo Sá na faixa “A arte de caminhar”, fazendo jus a sua fama de andarilho da metrópole. Os dois já dividiram o palco no passado, quando Murilo participou como baixista substituto na antiga banda de Tatá, Cérebro Eletrônico. Outro convidado é Roger Alex, que, durante uma de suas visitas nas madrugadas em que Murilo estava gravando/mixando, tocou seu marcado piano elétrico na faixa “Raio X”.
Texto por: Millena Kreutzfeld
Três anos após o belíssimo Carbono, que esteve em nossa lista de 2015, Lenine volta a estar por aqui com Em Trânsito, sétimo disco de estúdio e que traz uma sonoridade mais rockeira, mas ainda mantendo todo seu dom e estilo poético, como é o caso de Sublinhe e Revele.
Concebido num formato oposto ao tradicional, o DVD a ser lançado foi gravado com ajuda do Canal Brasil, após Lenine juntar pequenos amigos e se apresentar no RJ (mas sem a ideia de lançar um DVD, ainda), logo depois foi lançado os singles e depois o disco (normalmente lança single, disco e o DVD vira uma gravação de shows da turnê).
Além de mudar a pegada do disco e shows, que era mais calma durante Carbono, ele aumentou a noção de banda, com as músicas tendo uma assinatura coletiva das letras, compostas por Bruno Giorgi, e JR Tostoi nas guitarras, Guila no baixo, Pantico Rocha no sintetizador e participações de Amaro Freitas (piano), Carlos Malta (saxofone) e Gabriel Ventura (guitarra).
Entre as 10 faixas do disco, três não são inéditas — Virou areia, Lá vem a cidade e De onde vem a canção —, mas ganharam novos arranjos e novos significados na sequência escolhida por Lenine. Outra coisa que mudou também foi a forma de apresentar as músicas para a banda, sem o violão e somente com letra e melodia.
Lançado neste ano, o disco levou para casa o Grammy de Melhor Álbum de Rock/Alternativo em português.
Elza Soares - Deus É Mulher
Elza Soares, no alto de seus 81 anos, veio para incomodar com o seu último lançamento: Deus É Mulher. O título, provocativo, já indica que feridas serão cutucadas. Além de tratar do universo feminino, traz questões religiosas, sexuais e trata da violência urbana.
A sonoridade do álbum passa pelo rock, por um quase punk, tem elementos fortes da percussão como em Banho, que conta com a participação do Ilú Obá de Min, além de outros elementos dos ritmos nacionais. Em Deus é Mulher, temos uma Elza magnânima e feroz.
Texto por: Millena Kreutzfeld
Apesar do título, se tem um disco que todo mundo deve ouvir, esse é o mais recente do Alaska. Botando para fora ansiedades, aflições, fobias, o disco nasceu de relatos de membros da banda e fãs, mudando também sua sonoridade, seja com os sintetizadores, transformações e efeitos eletrônicos, todos eles unidos a uma voz tratada cuidadosamente e se encaixam perfeitamente em cada uma das 13 faixas do disco.
Todos esses detalhes, até mesmo possíveis "bagunças" da voz, mas que combinam com o sentido da letra, mostra que a banda veio para se estabelecer no cenário nacional e certamente NVMO poderia figurar o topo de muitas listas de discos do ano. Mais uma vez vale destacar que esta lista não segue alguma ordem de qualidade ou de preferência, mas sim alguns lançados em 2018 e que merecem destaque.
Texto por: Elio Sant'Anna
Gilberto Gil - OK OK OK
Gilberto Gil resolveu nos presentear este ano: após reflexões sobre seu papel na música e na arte, ganhamos OK OK OK, um disco de inéditas que conta com a participação de João Donato, Yamandu Costa e Roberta Sá. E ainda foi produzido pelo seu filho, Bem Gil.
O processo de reflexão, fez Gil nos trazer diversos tema, como família (Sereno, Lia e Deia, Sol de Maria e Uma Coisa Bonitinha), saúde (Quatro Pedacinhos), finitude (Jacintho), entre outros temas que podem ser percebidos durante a audição do disco.
OK OK OK traz um Gil melhor, mostrando todo seu talento no violão e que ainda pode fazer plateias dançarem com sua obras.
Texto por: Millena Kreutzfeld