Dir: Damien Chazelle - por Pedro Mauro
Se tem um
nome que andou sendo cravado em Hollywood nos últimos anos, esse nome é Damien
Chazelle. Não à toa, o jovem diretor americano de apenas 33 anos já vem
deixando seu nome marcado desde 2014 quando chegou de surpresa com seu
sensacional Whiplash – Em Busca da Perfeição. Longa que além de suor, exala
música e muito jazz. O premiadíssimo filme foi o ponto de partida para dois
anos depois lançar o icônico La La Land que também dominou as premiações com
direito ao momento tragicômico ao ser nomeado erroneamente como Melhor Filme no
Oscar 2017 após a confusão envolvendo um envelope errado e o filme Moonlight.
Com La La Land, Chazelle se consagrou como o diretor mais jovem a ganhar um
Oscar, na ocasião, ainda com 32 anos.
Além
disso, Chazelle tem no currículo outros oito projetos que atuou como produtor e/ou
roteirista. O que desde sempre já foi uma prova do quanto o jovem cineasta não
tem medo de explorar diferentes territórios dentro da sétima arte. Com um nome
bem difundido na indústria e uma garra exemplar em explorar novas histórias,
Chazelle agora, deixa de lado o mundo da música e do jazz para contar a ambiciosa
e épica cinebiografia de ninguém menos que Neil Armstrong. Uma das maiores
figuras heroicas americanas e que, muito interessantemente, em 2019 completará
50 anos de sua chegada à Lua. Um dos maiores eventos históricos da humanidade
com certeza merecia um filme.
O novo
longa de Chazelle conta detalhadamente a vida de Armstrong. Sem pressa de
acontecer e uma boa história, Ryan Gosling e Clair Foy entregam personagens
profundos, dramáticos e perfeitos. Não é apenas um filme de ficção científica
com heroísmo exagerado, do tipo que vai direto ao ponto. A trama se desenvolve a
partir dos riscos que os treinamentos e a própria viagem à Lua oferecem. E através
dos olhos de Gosling e Foy, sentimos como o peso e a pressão afetam sua vida
pessoal, seus relacionamentos familiares e prioridades.
Tecnicamente
o filme também é de tirar o fôlego. A Trilha sonora e os efeitos de som fazem o
espectador se sentir um tripulante da arriscada missão. Chazelle opta aqui, por
planos predominantemente fechados que traduzem não só o pouco espaço físico nas
cápsulas dos foguetes, mas também seu estado psicológico. A fotografia é quase
documental e também ajuda a ambientar o espectador nos anos 60. As cores são
saturadas e em muitos momentos temos passa a sensação de gravações caseiras da
época. E como se o longa já não fosse todo esse louvor, ainda é recheado de planos e referências à clássicos da ficção científica, como 2001 - Uma Odisseia no Espaço (de Stanley kubrick), Gravidade (de Cuarón), e até Interstellar (de Nolan). É quase uma homengem singela aos grandes da ficção.
Gosling se
entrega brilhantemente ao seu papel explorando inúmeras camadas de Neil Armstrong
que provavelmente a maioria de nós sequer imaginaria. Neil não é um personagem heroico,
perfeito e confiante. Longe disso, ele tem medo dos riscos, e sempre se mantém
realista quanto ao tamanho da responsabilidade que está assumindo. Neil é absolutamente
humano. Chazelle tem, mais uma vez um possível filme de Oscar, principalmente
em termos de prêmios técnicos.
Damien
Chazelle se mostra um diretor de nível a cima do que seria comum para alguém
tão jovem. O longa é ousado, ambicioso e épico e nas mais de duas horas de
duração deixa o público tenso, nervoso, vibrante pelos sucessos de Neil e
também tão arrasado quanto ele quando as coisas não dão certo. Sem dúvidas, a
sequencia na Lua é de ficar de olhos arregalados e se emocionar, dada a perfeição
na representação dos fatos e da própria Lua. Sabemos a história e como tudo
aconteceu e ainda assim, não tem como prever os detalhes da jornada de
Armstrong.
O longa
ainda encontra tempo de sobra para mostrar como a corrida espacial afetava a
população, que protestava contra um governo que gastava milhões com suas missões.
E nada em O Primeiro Homem fica excessivo ou escasso. Chazelle conseguiu explorar
diversas camadas de uma história que em outras mãos poderiam ter entregado o
óbvio quando se trata de filmes biográficos. Sem clichês e objetividades, o
roteiro tem um fluxo humano, natural e real e poeticamente construído. Um filme
com potencial para ser tão icônico quanto a história que ele conta. Mais uma vez, Damien Chazelle mostra sem hesitação a que veio e porque seu nome é um dos mais revelantes na atual Hollywood.