Dir: David Gordon Green
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Há quase 6
décadas atrás surgia no cinema um dos filmes mais aclamados de todos os tempos.
Psicose, de Hitchcock chocou não só toda uma geração, como também marcou para
sempre a história de Hollywood. Em particular a cena no chuveiro, que foi
revolucionária em inúmeros e minuciosos aspectos. Um deles, e um dos principais,
é o fato de que o icônico momento de brutalidade no banheiro foi o que, mais
tarde originou os filmes denominados slashers.
Esses em que um grupo de pessoas passa a ser perseguido por um maníaco
mascarado com uma faca a fim matar sua sede por sangue.
Mais tarde
surgiriam outros vilões mascarados que também cairiam nas graças do público. É
o caso de Jason Vorhees de Sexta Feira 13, Freddy Krueger, Pânico, Eu Sei O Que
Vocês Fizeram No Verão Passado e muitos outros que surgiram entre os anos 80 e
90. Porém, ainda em 1978, fomos presenteados, por John Carpenter com seu
primeiro grande sucesso: Halloween. O longa conta a história de Michael Meyers.
Um garoto de 6 anos que assassina sua irmã mais velha, Judith Myers, com uma
enorme faca de cozinha. 15 anos depois, na véspera de Halloween de 1978,
Michael escapa do hospício e vai em direção a uma onda de matança.
O filme
foi tão bem recebido que gerou mais sete continuações e até mesmo dois remakes
dirigidos pelo também amante do terror Rob Zombie. E em uma fase em que o
cinema do terror tem dado uma ênfase excessiva em demônios e todo um universo
sobrenatural, Halloween não poderia ter surgido em momento melhor, mesmo que
vindo não das mãos de Carpenter e sim pelas de David Green. Filmes slashers tem
certas convenções e clichês que fazem do gênero o que ele é. E isso é que
funciona em Halloween. Todos clichês estão presentes mas sem ser clichê até
demais.
Michael
Meyers escapa do hospício e segue em direção à sua matança de maneira implacável
e acompanhado de longos planos-sequencia que nos coloca como seguidores fantasma
do seria killer é tudo muitíssimo bem conduzido. Os fãs da franquia podem ficar
tranquilo com um bom roteiro que não encontra dificuldades em ser realista e
aceitável para um público nostálgico. O filme é uma sequencia dos eventos
anteriores e consegue também justificar o ponto onde estamos com extrema coerência.
Jamie Lee Curtis vive uma Laurie Strode mais velha, avó, absolutamente
traumatizada, mas por outro lado mais forte, inteligente, treinada e preparada
para a volta eminente de Meyers.
Todo o seu
arco é ligado à sua neta Allyson Strode e seus amigos. Os adolescentes da vez
que acompanharemos os trágicos e óbvios destino mas agora, num filme ainda mais
visceral e cruel que os anteriores. David Green também aproveita muitas cenas
de assassinato para mostrar apenas o antes e/ou o depois deixando a violência
de Meyers mais sublime. Sempre na medida certa. Green fez um trabalho incrível
com a franquia de sucesso entregando algo totalmente novo, mas ainda assim,
tudo o que um bom filme slasher deve ter. Dos jump-scares mais previsíveis, aos
namorados indo conferir o barulho que foi ouvido ao fundo da casa e não
voltando mais.
Isso sem
falar na clássica trilha sonora minimalista tocada ao piano que foi atualizada
e mais presente ao longo do filme que faz o espectador saber que Meyers está
chegando. A abertura do filme também não poderia ser mais satisfatória e nostálgica
e como tem sido de praxe, diversas referências aos longas antigos. De objetos
em cenas que remetem ao passado à planos e enquadramentos que também conectam
os fãs ao passado mais clássico desse universo.
John Carpenter
sempre foi e será lembrado como um dos mestres do terror. Mas David Green além
de dar conta do recado ao dar sequência à uma respeitada franquia, mostra-se
indiscutivelmente hábil com o gênero e o fluxo da história. Se antes a ideia de
uma sequência como essa fosse de qualidade duvidosa, Green nos dá um bom motivo
para esperar que Michael Meyers não demore outros longos 40 anos para nos
visitar.