Legalize Já
– Dir: Gustavo Bonafé e Jhonny Araújo
Quem
cresceu nos anos 90 no Brasil sabe que foi provavelmente a melhor época pro
rock nacional. Mamonas Assassinas, Raimundos, Titãs, Skank e outras bandas
dominaram o cenário musical da época. Mas nenhuma foi provavelmente tão
polêmica quanto o Planet Hemp. A banda fundada pelo icônico Marcelo D2 e seu
melhor amigo Skunk quebrou barreiras, tabus, recordes e marcou para sempre o
seu nome na história do rock tupiniquim. Seria muito fácil e também raso dizer
que a banda atingiu sua fama por falar sobre temas polêmicos, em especial a legalização
da maconha.
Planet
Hemp vai muito além disso e é o que Legalize Já – A Amizade Nunca Morre deixa
absolutamente claro. Em primeiro lugar vale apontar que o longa não é um filme
biográfico da banda. E sim um filme com foco na história de Marcelo D2 e Skunk
que ressalta a beleza do encontro de pessoas desconhecidas que viriam a se
tornar melhores amigos e os valores que isso gera. Marcelo vendia camisetas de
banda em um camelô no Rio de Janeiro e Skunk tinha lá seus esquemas de bons
contatos e um amplo gosto musical. Os dois, vindo de uma dura realidade
reforçada por uma fotografia praticamente em preto e branco digna de Oscar dão
a volta por cima contra uma sociedade repressora.
O filme é
dramático, mas muito belo. Skunk foi a mente e a força motriz para a formação
da banda e o maior mentor de D2. Sim, é um filme biográfico mas que não cai na
obviedade em muitos sentidos. Como a própria banda reafirma ao longo da história,
o Planet Hemp não é só sobre maconha. E o filme também não. “É um filme sobre como a amizade e o amor
podem potencializar um ser humano e levar ele pra um lugar onde ele nunca
imaginava. É uma história desses dois jovens que ousaram sonhar, ousaram contar
uma história e até cantar uma história que talvez ninguém quisesse ouvir ou
eles não tinham certeza se as pessoas estavam prontas pra ouvir, mas eles
contaram e elas estão aí até hoje”, diz um orgulhoso Gustavo Bonafé após 10
anos de projeto.
É válido
lembrar que o longa é inspirado na história dos dois amigos e inclusive possui
trechos fictícios. Os atores Ícaro Silva (intérprete de Skunk) e Renato Góes
(MD2) entregam um trabalho impecável. “Fazer
uma cinebiografia é sempre difícil. Você sempre fica entre a semelhança física
e se o ator sabe cantar ou não. E o que eles trouxeram de mais bonito pro filme
foi a entrega. Eles fizeram o personagem deles. Obviamente o filme é baseado
nessa história e não focado na realidade formal do que aconteceu”, explica
Jhonny Araújo na coletiva após a sessão.
Evidentemente o filme é sobre a música também, e a trilha sonora também merece destaque. Além do próprio Marcelo D2 ter trabalhado nas adaptações das músicas nas cenas da banda ensaiando, o filme ainda ambientado com Faith No More, Dead Kennedys, Beasties Boys e por aí vai.
Legalize Já é uma prova de excelência em sétima arte brasileira até na forma sutil de passar sua mensagem sem nem chegar perto de qualquer tipo de clichê, chega até a ser um filme família de algum modo. D2 pode ser o protagonista mas é Skunk que leva não apenas ele adiante, mas o filme todo. “Eu passei por esse lugar de não ter a menor referência porque o Skunk tem pouquíssimo material. Tipo um ou dois vídeos dele, mas nenhum dele falando ou sendo entrevistado. Mas o bonito disso tudo é que o Skunk vive nos olhos do Marcelo. A minha construção veio muito disso. Querendo ou não você é uma colagem das coisas e pessoas que você ama. O Skunk tá muito presente no que é o Marcelo hoje então eu peguei da alma dele, dos olhos dele, de como ele fala do Skunk que foi o grande amigo dele”, conta Ícaro Silva sobre a construção de seu personagem.
O filme
que estreia dia 18 de Outubro chega num momento interessante até mesmo por
conta da nossa história política. Ícaro ainda defende que como no filme, “[...] a maconha é apenas um dos assuntos que
nos coloca frente a frente com essa hipocrisia que a gente vive social e politicamente.
A gente discute se pode ou não ter beijo gay na televisão como se as pessoas
não fossem gays e não se beijassem.
Legalize Já também encontra espaço para falar sobre a liberdade de expressão, repressão social, escravidão e por aí vai, mas nada que comprometa o clima divertido e poético que predomina o filme. A dupla de diretores atingiu um alvo em cheio em contar uma história biográfica bonita, cativante e sem tropeços ou falhas. Você quase esquece que é uma história em grande parte real. Mais do que uma boa história de um grande artista, uma linda homenagem à Skunk e à importância da amizade e de ousar sonhar.
Legalize Já também encontra espaço para falar sobre a liberdade de expressão, repressão social, escravidão e por aí vai, mas nada que comprometa o clima divertido e poético que predomina o filme. A dupla de diretores atingiu um alvo em cheio em contar uma história biográfica bonita, cativante e sem tropeços ou falhas. Você quase esquece que é uma história em grande parte real. Mais do que uma boa história de um grande artista, uma linda homenagem à Skunk e à importância da amizade e de ousar sonhar.