Dir: Sylvain White
|
O poder de um mito é inegável. Ele não escolher ser um, é
elegido por um grupo de pessoas que projeta nele, uma imagem de força,
esperança, ou seja, lá que palavras você possa atribuir para o seu objeto de
adoração. E a criatura denominada Slenderman é um exemplo do quanto nós mesmos
criamos esses mitos.
Antes de tudo, um pouco de contexto. O tal do Slenderman
começou a surgir na internet à partir de 2009 quando um site promoveu um
concurso de imagens assustadoras e um rapaz Chamado Victor Surge venceu com sua
criatura, o Slenderman. Daí em diante a internet proliferou lendas urbanas
envolvendo a criatura que tem aspecto que lembra um ser humano alto, magro,
braços e pernas anormalmente longos e finos, pele branca, terno, e não possui
rosto e supostamente consegue entrar na mente humana como um parasita e
influenciar pessoas. Houve até um caso nos EUA, em 2014 em que 2 garotas
esfaquearam uma colega da sala e a deixaram sangrando. Quando interrogadas
sobre seus motivos, disseram que o Slenderman havia mandado. Isso já foi,
inclusive tema de um documentário produzido pela HBO. Seria fácil dizer que
Hollywood não demoraria muito para transformar tudo isso em um filme.
E assim aconteceu. Slenderman acaba de virar filme numa
tentativa forçada de fazer jus ao nome que a entidade tem na internet.
Slenderman é uma chuva de clichês narrativos, soluções fáceis e diálogos que
subestimam a Inteligência de um espectador. Além disso, em termos de filmes de
terror, mais uma vez temos uma abordagem sobrenatural. Tema que tem sido sugado
e saturado em filmes do gênero.
O longa até começa com uma boa premissa, uma história a
princípio aceitável, mas não demora para que ser perca num roteiro óbvio,
batido, entupido de jump-scares e sequências previsíveis. O problema é que o
tema do sobrenatural tem sido usado em filmes de terror como justificativa
fácil para qualquer que seja a ameaça que não faça parte do nosso mundo,
tornando tudo sempre muito óbvio e previsível.
Slenderman não consegue nem mesmo trazer a sua força da
internet, já que o filme deixa isso praticamente de lado. E não só isso, como
muitos outros elementos narrativos são abandonados ao longo da narrativa, e sem
dar qualquer explicação. O próprio e supostamente assustador Slenderman não tem
lá uma aparência absolutamente assustadora. Só sabemos que devemos teme-lo por
se tratar de filme de terror e o vilão sustentar o título do filme. A entidade
maligna mais lembra um punhado de travesseiro sujo e amassado. De resto, os
poucos sustos que o longa proporciona vem da edição som e cortes, pelo menos os
poucos que não são previsíveis.
A edição de som até que é válida, mas chega um momento que o filme vira simplesmente uma sinfonia
de galhos estalando em florestas desertas cheias de neblina que forçam a
aparecer para manter o clima de medo. Slenderman tenta demais, ser assustador
demais e tudo o que consegue é passar um clima de um vídeo-arte de terror com as
tais florestas e cortes rápidos de imagens aleatórias e alguns barulhos de
estáticas. Ou seja, tudo o que um filme cheio de clichês pode oferecer.
Aparentemente o lugar do Slenderman é de fato na internet e
na mitologia cultuada em volta dele. Aliás, essa seria a própria definição do
mito, algo que está cultura de um grupo de pessoas que acredita naquilo fortemente.
Talvez Slenderman nunca devesse ter sido personificado nas telas. Talvez o
maior perigo, seja mesmo o medo em si, pois o único medo que o longa
proporciona é o show de horror na falta de habilidade de se contar uma boa
história de terror.
Nota - 2 estrelas