Pela quarta vez no Brasil, a banda sueca de metal sinfônico, Therion, passou por São Paulo na noite do dia 11 de maio e não deixou pedra sobre pedra!
Com a turnê “Beloved Antichrist”, que divulga o disco homônimo e mais recente da banda, passando pela América Latina, foram realizados quatro shows no Brasil que se iniciaram em Porto Alegre, vindo para São Paulo e seguindo para Rio de Janeiro e Belo Horizonte. O show em São Paulo deixou os fãs completamente alucinados e em estado de êxtase em uma noite brilhante com uma performance contagiante e cheia de energia do início ao fim. A noite ainda contou com os shows das bandas Cellar Darling e The Devil.
Curiosamente o show em São Paulo deveria acontecer no dia 13 de maio, mas em função da apresentação do príncipe das trevas, Ozzy Osbourne, nesse mesmo dia na cidade, a pedido dos fãs e da própria banda, a produção reconsiderou e alterou as datas de sampa (11) e BH (13).
A turnê pela América Latina começou na Argentina, passou pelo Brasil e segue ainda por Chile, Peru, Equador, Colômbia, Guatemala, El Salvador, Costa Rica e México.
Carisma.
Essa palavra define a banda sueca de Metal sinfônico, Therion.
Cheguei a essa conclusão ao assistir ao show da banda na última sexta, 11/05, no Carioca Club.
Em uma noite agradável cheguei à casa de shows por volta de 19h30, horário previsto para abertura dos portões. Estava tudo tranquilo e havia cerca de 50 pessoas na fila. Fui me ambientando e por volta das 20h, quando os portões abriram, já havia aproximadamente 120 pessoas para entrar. Algumas poucas pessoas com camisetas da Therion até então e a maioria com roupa preta e camisetas com variadas estampas de diversas bandas de metal.
The
Devil, uma grata surpresa!
Pontualmente as 20h45 começou o
primeiro show. Após a abertura das cortinas entraram uns mascarados no palco e
assim que a música começou eu notei um detalhe interessante: não tinha
microfone no palco. Fiquei intrigado, mas logo entendi. Era uma banda
instrumental! Ou quase...
No telão começou a rolar um vídeo
com imagens que pareciam ser aleatórias e em seguida foram surgindo uns samples
com trechos de discursos de políticos e até mesmo algumas vozes melódicas.
Conforme o show ia evoluindo as
imagens iam sendo alteradas criando todo um contexto para cada música. Entre os
temas abordados estavam principalmente ficção científica, OVNIs e
extraterrestres, teorias da conspiração, questões relacionadas à evolução
humana, expansão da consciência, interação entre humanos e máquinas e muito
ocultismo.
Vendo a banda no palco fiquei
impressionado com a postura daqueles “mascarados performáticos” com todos os
movimentos sincronizados e praticamente imóveis na maior parte do tempo,
evitando chamar a atenção para si e até mesmo uma interação com o público,
dando total importância à mensagem que estava sendo passada. Em dado momento
eles soavam como os verdadeiros “cavaleiros do apocalipse”. Impressionante!
O show durou exatos 43 minutos e
foi arrebatador!
Fiquei realmente fascinado pela
performance e o público que agora já ocupava praticamente metade da casa,
também.
Enquanto acontecia a troca de
bandas, senti a expectativa da galera aumentar bastante. Muita animação para o
show seguinte da noite e com um simples acorde na guitarra seguida de um
pequeno tema, a primeira reação explosiva do público. Mais uns instantes e uma
vocalização da estrela daquele espetáculo e o público foi ao delírio com muitas
ovações e gritos. Comecei a ficar curioso e fiquei na expectativa também,
porém...
Cellar
Darling, minhas expectativas frustradas...
Assim que começou o show da Cella
Darling, uma pequena frustração para mim que ainda estava sob o efeito do
primeiro show: o som não estava bom. E isso ficou ainda mais evidente quando
entrou a voz que ficou completamente coberta pelo instrumental. Aos poucos isso
foi se ajustando, mas não chegou a ficar realmente bom em nenhum momento
durante o show. Porém, esse não foi um fator impeditivo para que os fãs
cantassem a plenos pulmões do início ao fim, o que foi bonito de ver.
Ok. Era outra banda. Outro
estilo. Outra pegada. Outra música. Outro mundo.
A talentosa Anna Murphy, além de
vocalista, ainda toca flauta e hurdy-gurdy (viela de roda) no show. Com uma
simpatia enorme leva o público ao delírio em sua primeira fala após as três primeiras
músicas. Ela arrisca algumas palavras em português e está muito feliz em estar
no Brasil. Após dar as boas-vindas e interagir com o público começa a contar
uma história sobre a próxima música e o pano de fundo é mais gélido e soturno,
porém, em um registro vocal bem agudo e com muitos falsetes no final das
contas. A canção seguinte dá sequência ao clima gelado e ela a coloca como um
“frio congelante”. Quando a música começa faz todo o sentido essa ambientação e
é enfatizado pelo melhor momento de interpretação vocal desse show com ela
cantando em um registro mais grave e confortável.
Em diversos momentos tive a
sensação de que algumas notas são muito agudas para ela e o tempo todo canta no
limite. Algumas desafinações aconteceram, mas até aí tudo bem. Faz parte.
Porém, em algumas músicas senti que não estavam em um tom adequado para a
tessitura e extensão vocal dela.
Embora seja performática, achei
um pouco artificial a apresentação.
O público em geral não estava tão
entusiasmado assim, mas os fãs da banda estavam esfuziantes e isso é o que realmente
importa. A mim, não me empolgou.
Depois de 13 minutos de atraso do horário previsto para o início do show em função da cortina do palco que emperrou e não abria mais que a metade, finalmente o momento mais aguardado pela maioria do público presente que agora praticamente lotava a casa. A atração principal da noite, Therion!
Precursora do metal sinfônico, logo de cara é possível identificar o “drama operístico” que viria pela frente. Com figurino impecável, um a um vai entrando no palco. Primeiro o baterista, Johan Kullberg, discretamente, seguido do baixista Nalle Påhlsson. Na sequência o guitarrista Christian Vidal e por fim a parte instrumental da banda fica completa com entrada do guitarrista e fundador da banda, Christopher Johnsson.
A primeira música começa com uma introdução instrumental seguida de uma breve intervenção vocal do Christian e finalmente entra em cena o personagem principal do espetáculo, o vocalista Thomas Vikström. Como um verdadeiro mestre de cerimônias ele dá as boas-vindas ao público sem dizer uma só palavra, apenas cantando e em seguida apresenta as cantoras. Primeiro a solista com um aspecto fantasmagórico, Chiara Malvestiti, que mostra de cara a sua veia lírica com uma voz potente e aguda, cheia de ornamentos e vibratos característicos da ópera. Na sequência, com visual mais sóbrio, porém marcante com sua jaqueta de couro à la Rob Halford, a solista Linnéa Vikström, com uma voz não tão potente e praticamente sem ornamentos, mas com uma presença de palco incrível.
Finalmente estão todos no palco e assim termina a primeira música, “Theme of Antichrist” do último álbum da banda, “Beloved Antichrist”, e que dá nome a turnê internacional da banda. A reação do público é catártica desde o primeiro momento do show.
Com o público completamente em suas mãos o vocalista conduz todas as reações da galera como mãos abertas para o alto ou punhos fechados, vocalizações, gritos, ovações e até mesmo coreografias em alguns momentos como as mãos balançando no alto.
Além disso é muito legal o carinho deles com o público. Eles passam o show inteiro interagindo, conversando, posando para fotos e distribuindo palhetas e apertos de mão para a galera.
Logo em seu primeiro solo vocal, a cantora Linnéa se joga de joelhos no chão e canta como se não houvesse amanhã. Os guitarristas fazem coreografias, se postam como os donos do mundo em seus solos e tudo está sob controle total e absoluto deles todos que se portam como verdadeiros artistas.
Do nada até eu estou na vibe do show e batendo cabeça descontroladamente. Isso é incrível!
Não sou um conhecedor profundo das músicas, mas estou lá interagindo, cantando todas as vocalizações com a galera e me divertindo demais. É realmente envolvente a performance deles e dá para perceber que mesmo a pessoa mais avulsa no show se sente acolhida e pertencente ao que está acontecendo naquele momento.
Por ser uma banda formada em 1987 o público é contemplado por várias gerações, desde os mais velhos ali com seus 50, 60 anos até os mais jovens com seus 20 e poucos anos. Também em função do tempo de existência da banda fica difícil abranger toda a discografia em pouco mais de 1h40 de show. Dos 16 discos de estúdio, nove deles foram retrados no show, todos de 1996 para cá, período em que ocorreu a mudança de estilo, saindo do Death Metal e incorporando elementos da música clássica ao som.
Sem dúvida um show incrível!
Setlist do show:
1. Theme of Antichrist
2. The Blood of Kingu
3. Din
4. Bring Her Home
5. Night Reborn
6. Nieflheim
7. Ginnungagap
8. Typhon
9. Temple of Jerusalém
10. An Arrow From The Sun
11. Wine Of Aluqah
12. Lemuria
13. Cults Of The Shadow
14. The Klysti Evangelist
15. My Voyage Carries On
16. The Invicible
17. Der Mitternachtslöwe
18. Son Of The Staves Of Time
BIS
19. The Rise Of Sodom and Gomorrah
20. To Mega Therion
Discos retratados no show:
1996 – Theli
1998 – Vovi
2000 – Deggia
2001 – Secret Of The Runes
2004 – Sirius B
2004 – Lemuria
2007 – Gothic Kabalah
2010 – Sitra Ahra
2018 – Beloved Antichrist