Círculo de Fogo - Revolta - Dir: Steven S. DeKnight - por Pedro Maur
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Por
natureza, Círculo de Fogo não é o tipo de ficção fácil. Pelo contrário, é um
filme de gênero com um público específico, afinal não é todo mundo que
simpatiza com criaturas interdimensionais invadindo nosso mundo, lutando com
robôs ainda maiores para nos defender. É de fato um tema específico e é aquele
tipo de filme para curtir umas boas cenas de ação e ver uma destruição colossal
em alguma grande metrópole. A grande questão é que no primeiro filme o
talentoso Guillermo Del Toro soube construir maravilhosamente bem esse
universo, assim como o arco dos personagens e além disso, criaturas e monstros
são a assinatura de Del Toro, tanto que o filme original foi sucesso de
bilheteria e de críticas.
A nova
sequencia já é diferente por ter outro diretor já bem menos conhecido. Steven
S. DeKnight é novato nas telonas mas não é de todo mal. O roteiro é funcional.
No início o filme amarra muito bem os acontecimentos do primeiro filme. Se
passaram 10 anos desde o longa original e o mundo ainda sente as consequências.
Cidades destruídas, esqueletos dos Kaijus em todo lugar, e mundo ainda se
recupera de tudo isso.
Dessa vez
acompanhamos a história através de Jake Pentecost (John Boyega) que vive de
negócios arriscados no mercado negro de peças roubadas de Jaggers abandonados,
como forma de fugir do nome do legado do nome de seu pai, General Stacker
Pentecost (Idris Elba) do filme anterior. Porém ao conhecer a pequena mas
corajosa Amara Namani (Cailee Spaeny) seu rumo muda, e vale dizer aqui, de
forma um pouco forçada demais e eles são obrigados a voltar para o exército. A
justificativa aqui é que ele deve treinar a garota para ser um piloto de Jagger
pois descobrimos nessa continuação que as crianças se conectam melhor com seus
robôs e, portanto, lutam melhor. Apesar de fazer lá seu sentido na forma como
os robôs funcionam, não dá para deixar de sentir um grande estranhamento que o
exército comece a recrutar crianças para comandarem robôs colossais para lutar
até a vida ou a morte contra seres mortais gigantescos.
Mas, assim
como o primeiro filme, é uma questão de gostar ou não do gênero e aceitar o
universo criado para se contar a história. Ainda assim, um aspecto fundamental
em que o filme peca são os icônicos monstros do filme original. O conceito de
Círculo de Fogo – A Revolta, é que assim como nós evoluímos a nossa tecnologia
para combater essas criaturas, elas também evoluíram. O problema é que elas
evoluem um pouco demais, a ponto de conseguirem dominar alguns dos robôs
possibilitando uma luta de igual para igual contra os Jaggers. Ou seja, se
torna um filme de robôs lutando contra mais robôs tirando o brilho dos monstros
que é o grande destaque no longa antecessor.
A pequena
Cailee é uma novata em Hollywood e muito talentosa. O problema é que seu
personagem é pouco desenvolvido, pouco aproveitado e até raso. Para uma
personagem que move e humaniza Jake, Amara sofre muitos clichês por parte de um
roteiro falho. Ela é a órfã que é encontrada pelo protagonista que renega seu
valioso passado. Sua personagem até copia do primeiro filme o trauma de
infância que ela revive de perder os pais num ataque de Kaiju ao tentar se
conectar com Jake no Jagger.
O filme
seria mais funcional se Del Toro estivesse no comando da sequência? Talvez, mas
dado o histórico do diretor já seria difícil de imaginar que ele assumiria a
continuação. Sua única sequencia foi Hellboy 2. De qualquer modo, Círculo de
Fogo – A Revolta convence dentro de suas limitações e tropeços sendo possível sair
satisfeito do cinema. Dica, espere um pouco quando filme terminar. Uma pequena
cena pós-créditos à la Marvel dá indícios de uma futura continuação. Se ela vai
mesmo acontecer, é a bilheteria que dirá.