Crítica do filme "3 Anúncios Para Um Crime"



3 Anúncios para um Crime – Dir: Martin McDonagh  -  por Pedro Mauro

Sendo um dos favoritos ao Oscar 2018, 3 Anúncios para um Crime mostra a que veio. Filme habilidosamente dirigido por McDonagh e protagonizado por uma afinadíssima Frances McDormand. Aqui ela é Mildred Hayes, uma mãe devastada pela morte de sua filha há 7 meses atrás na linha cronológica do filme. Insatisfeita com o trabalho da polícia que praticamente abandonou o caso por falta de pistas, Mildred aluga 3 outdoors em uma pacata estrada onde só passa quem está perdido ou ser for muito burro. Em cada um dos 3 outdoors Mildred estampa o crime cometido e questiona a falta de ação da polícia, em especial a do Chefe Willoughby, vivido pelo sempre talentoso Woody Harrelson.

E pronto. Os outdoors funcionam como um gatilho para os acontecimentos das próximas 2 horas de filme. Martin McDonagh entendeu o tipo de história que tinha em mãos e soube muito bem colocar isso na tela. Os outdoors causam um grande rebuliço na pacata cidade de Ebbing. Mildred é durona, boca suja, e muito segura de si, mas é justamente a fragilidade de sua dor que a motiva. Definitivamente um filme sobre ódio e raiva, mas que McDormand mostra como esses sentimentos tão negativos podem servir como impulso e motivação para uma causa. E aí, é impossível não amar o jeito grosseiro e bad-ass de Mildred. Somos levados a amar a raiva excessiva de Mildred pois sentimos empatia por sua causa e nos momentos mais leves sentimos também o drama da dor de uma mãe que perdeu sua filha. Sua motivação é tanta que ela praticamente esqueceu-se da relação com seu filho Robbie (Lucas Hedges) com quem também tem seu drama pessoal.

Contando com um excelente elenco, Frances não é a única a brilhar. Woody Harrelson na pele de Willowghby é magnífico e considerado por Mildred como o principal culpado pela falta de resultados na investigação. Somos presenteados com a melhor atuação da carreira de Sam Rockwell no papel de Jason Dixon, policial que tem hábitos detestáveis num primeiro momento e maior rival de Mildred, (não que o filme caia num maniqueísmo). Porém, com o desenrolar do drama, os personagens encontram suas respectivas redenções e evoluem juntos e a química dos dois é inegável. Harrelson e Rockwell estão tão ótimos em seus papéis que os dois concorrem à estatueta de Melhor Ator Coadjuvante.

Os 3 outdoors que estampam o crime e a revolta de Mildred são personagens à parte. Para começar, 3 é sempre aquele número mágico ainda mais nos roteiros de cinema. Os anúncios colocados carregam seu drama pessoal inclusive por serem vermelhos com o texto preto. Não apenas destaca o tamanho da insatisfação da protagonista como também dá a ideia de sangue e violência. Além disso, eles carregam um significado muito mais profundo. O filme explora essa ideia de que quando somos forçados a ver algo que normalmente evitamos, isso nos move e nos motiva a tomar atitudes. A princípio Mildred tem uma personalidade tão agressiva que ninguém simpatiza com sua perda e numa cidade pequena onde todos se conhecem, isso toma proporções maiores. Ou seja, McDonagh constrói muito bem a forma como esses anúncios afetam a própria Mildred, as autoridades e toda a gente da cidade.

O interessante de 3 Anúncios... é que é um filme de assassinato que não se preocupa necessariamente em resolver o mistério do crime. O filme não é sobre isso, e sim como esse crime afetou não apenas Mildred mas o toda a cidade. Deixando de lado um roteiro clichê, o filme consegue ser muito mais humano e sensível que isso. E ainda reafirma seu tema com o seu final brusco que justamente no faz pensar no que vimos e refletir exatamente porque a história acaba no momento em que acaba.
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