Foto: Vinicius Antunes |
Leia sobre como nasceu toda essa produção abaixo (e ouça o disco no fim da matéria):
Beto Bruno:
Estava nascendo o sol em algum aeroporto por aí e o Gross me mostrou no computador um clipe de uma banda nova de Curitiba chamada Trem Fantasma. Na hora nós chapamos nos caras. Tinha tudo. Som, imagem, atitude e bom gosto. Procurei saber com meu amigo Siri, que na época morava em Curitiba, se conhecia essa banda. E ele não só conhecia como era amigo dos caras. Na época, eu disse até que adoraria gravar o disco deles. Demos risada e nunca mais falamos a respeito.
Quase um ano depois, em um outro aeroporto — nesse caso o de Curitiba —, eu encontrei o Dank — que faz parte da banda — bebendo no restaurante do andar de cima. Nós estávamos com o voo atrasado havia horas e também estávamos bebendo. Por isso tomei coragem e fui falar com o cara. Me apresentei, pedi para tirar uma foto com ele e me declarei como um grande fã. Não sei se ele levou a sério, mas trocamos contatos e combinamos de nos encontrar no show do Tame Impala em São Paulo, que seria dali a um mês.
Como planejado, assistimos juntos ao show e saímos para beber na Augusta. Falei que realmente queria produzir o disco de estreia deles. Combinamos que ele iria me mandar 10 músicas demo em 30 dias. Foi apenas 6 meses depois que eles me mandaram as músicas e me apaixonei por elas de primeira. Fiquei muito empolgado com as canções e começamos a montar um esquema para gravá-las, após o término das sessões do Costa do Marfim que estavam rolando nessa época. Botei no jogo dois amigos de muito tempo para nos ajudar. Fantástico... mostrei o som para o Rodrigo Garras, da gravadora Selo 180, e caiu o cu dele. É claro que ele lançaria, porque não é burro. E o Siri, Sanjai, que seria o cara para me ajudar a produzir o disco e conhecia todos os estúdios de Curitiba. Os dois entraram de cabeça. Parabéns.
Começamos as gravações em Curitiba e conheci o restante do grupo uma hora antes de iniciar os trabalhos. Adorei o clima de banda que rolava entre eles. Ao mesmo tempo, fiquei surpreso com a atenção e o amor que eles tinham com cada detalhe dos takes que estavam rolando. Aqueles foram dias muito bons e produtivos. Aprendi muito com esses rapazes. As mixagens fizemos em São Paulo com o Jander “Cavalo” Antunes, que também entrou nessa porque se amarrou no som. Gordo (Pelotas) e Charly (Coombes) gravaram pianos pelo mesmo motivo.
O Trem Fantasma é uma banda de verdade. Todos compõem, todos cantam, todos arranjam, todos tocam prá caralho. E eu fico muito orgulhoso de ter participado de um dos melhores discos de estreia que eu já ouvi na história do rock brasileiro. Muito obrigado, Marquinhos Dank...
Rodrigo de Andrade:
Quando fundei o Selo180, parti em busca das melhores bandas. Minha intenção era certeira: montaria o melhor selo de rock do Brasil. A estreia foi com a banda Cachorro Grande. Perfeito! Precisava então de um grupo novo. Logo lembrei de um pessoal que havia lançado um videoclipe no ano anterior: a banda se chamava Trem Fantasma e a música era Nunca se sabe. Será que eles teriam um disco pronto para lançar?
Fiz um contato através das redes sociais e consegui o telefone do Marcos Dank. Lembro muito bem da ligação. Foi decepcionante. Fui informado que a banda estava com suas atividades suspensas. Dois integrantes haviam partido em uma viagem mundo afora e não tinham previsão de retorno. E se lançássemos a faixa do videoclipe em uma coletânea ou compacto? Sem chances. O Dank respondeu que o futuro da banda era incerto e que não havia interesse em investir ou lançar aquela música. Fiquei desolado. Mas tudo tem o seu tempo.
No mesmo dia, fiz um contato com o Tim Bernardes, d’O Terno. Na época eles só possuíam um CD. Acabei firmando uma parceria com a banda e o selo Risco. Juntos, lançamos um compacto em vinil e o segundo LP d’O Terno. Eu já podia me dar por satisfeito. Podia dizer que estava com uma das melhores bandas da nova geração no catálogo do selo.
Mas algum tempo depois, o Beto Bruno — mais que um amigo, uma influência decisiva na formação da minha personalidade e gosto musical na adolescência — veio falar comigo sobre o desejo de se lançar como produtor e citou um grupo de Curitiba em que reconhecia um enorme potencial e gostaria de trabalhar. Ele nem precisou concluir: eu sabia que era o Trem Fantasma. Porém, disse o Beto, seria um projeto que precisava ser desenvolvido praticamente do zero. Ótimo! Mais que receber um disco pronto, cuidaríamos dos pormenores em todo o processo.
Foi então que o Sanjai surgiu talvez como a peça principal. Amigo meu e do Beto há mais de duas décadas, morava em Curitiba e já vinha gravando a produção mais relevante que acontecia na cidade. Mais que um produtor musical, o Siri foi praticamente um integrante da banda. E muito do resultado espetacular de Lapso se deve a ele. O arremate final foi a masterização primorosa do Rob Grant (o mesmo cara que grava, mixa e masteriza o Tape Impala) lá na Austrália.
Nesse momento, estamos com o álbum no forno e aposto todas as fichas nele. Não me importam as listas no final do ano. Lapso já é um dos melhores discos de estreia dessa década. Embarque no Trem Fantasma e prepare-se para uma viagem sem volta. Eu não voltei.
Ouça Lapso, disco de estreia da Trem Fantasma: