Foo Fighters lança novo EP e Dave Grohl divulga carta indicando fim (ou hiato) para o Foo Fighters



Quase um mês depois de uma contagem regressiva no site do Foo Fighters, foi finalmente revelada a surpresa nesta Segunda-feira (23/11): O EP Saint Cecilia, que conta com 5 músicas inéditas gravadas no hotel Saint Cecilia, em Austin.

Disponibilizado gratuitamente, o EP está disponível para download gratuito no site da banda, que você acessa clicando aqui, e é possível fazer download dele nos formatos MP3, WAV e FLAC, na loja do iTunes, pelo Spotify, ou também adquiri-lo no formato vinil pela loja virtual da banda, que também conta com camisetas e outros itens.

As músicas, algumas resgatadas da longa lista de esquecidas da banda, têm um ar saudoso, melódico e por vezes até uma pegada punk rock. O EP se inicia com a faixa título “Saint Cecilia”, e segue mais agitado pelas ótimas “Sean”, “Savior Breath” (essa lembrando uma música do Motorhead e seguindo a mesma linha de “White Limo”), “Iron Rooster” e fechando com chave de ouro, a profunda “The Neverending Sigh”, cuja intro podia ser ouvida no site durante a contagem. 



Junto com o download do disco, Dave Grohl divulgou uma carta bem extensa e emocionada carta onde explica suas motivações para gravar o EP e o futuro do Foo Fighters. Dave cita a todo momento um “fim”, deixando no ar a sensação de que a banda entrará em um longo hiato e que este ciclo se encerra nestas músicas. Ou até que o ciclo se encerra para sempre…. A carta, que foi traduzida pelo FFBRvocês podem ler abaixo:

“19 de novembro de 2015
Hoje à noite, deixe-me começar com um prefácio para uma carta que escrevi há algumas semanas no meu quarto de hotel em Berlim, enquanto finalizávamos a turnê deste álbum [Sonic Highways]. Eu senti a necessidade de escrever este prefácio à luz das tragédias comoventes do último 13 de novembro, já que este projeto assumiu um tom completamente diferente. Como tudo, ao que parece…
O EP Saint Cecilia começou a ser trabalhado em Outubro deste ano, como uma celebração da vida e da música. O conceito é que, como a nossa turnê mundial chegou ao fim esta semana, nós quisemos compartilhar o nosso amor por ambos com vocês, em troca de tudo que nos deram.
Agora, há a esperançosa intenção de que, mesmo que de uma maneira pequena, talvez essas músicas possam trazer um pouco de luz para este mundo às vezes escuro. Para lembrar-nos que música é vida, e que a esperança e a cura caminham lado a lado com ela. Isso nunca será tirado de nós.
Para todos os que foram afetados pelas atrocidades em Paris, entes queridos e amigos, os nossos corações estão com vocês e suas famílias. Vamos voltar e celebrar a vida e o amor com vocês mais uma vez, um dia, com a nossa música. Como isso deve ser feito.
– Dave Grohl
08 de novembro de 2015
Ei.
Obrigado.
De verdade.
Foi em Austin, Texas, 14 de março de 2013, no último show do “Sound City Players” quando recebi um presente pequeno, mas muito relevante e talvez profético, dos produtores do Sound City, Jim Rota e John Ramsay. Um caderno vazio, com um bilhete que dizia algo do tipo, ‘Parabéns por tudo que fez em Sound City… agora comece a trabalhar em seu próximo projeto!’ Foi a mais bela maneira de terminar uma coisa que eu queria tanto que durasse para sempre: com um novo começo.
O conceito básico do álbum Sonic Highways e da série nasceu bem ali, em uma pequena sala nos bastidores cercada por montanhas de cerveja Lone Star e espetinhos Stubbs. 8 músicas, 8 cidades, 8 estúdios, e uma viagem musical de toda uma vida.
Tirar o Foo Fighters de nossa zona de conforto e desafiar o processo de cima a baixo deu uma vida nova para a banda e nos colocou em uma viagem que, sem dúvida, excedeu as nossas simples expectativas. E agora ela nos trouxe aqui. Para outro belo final.
Então, por onde eu começo?
Devemos tudo à Cidade do México.
Sem o conhecimento delas, as pessoas que participaram desses dois shows em Dezembro de 2013 no estádio Foro Sol ajudaram a financiar a filmagem e gravação de maior parte do projeto Sonic Highways. Eles foram a chama que acendeu este pequeno foguete, baby. Sem esses shows, muitos poderiam nunca ter ouvido falar das incríveis e inspiradoras histórias de vida de Buddy Guy, Steve Albini, Ian MacKaye, Tony Joe White, Zac Brown, Dolly Parton, Roky Erickson, Gary Clark Jr, Bruce Pavitt, Fred Drake, Terry Lickona, Joan Jett, Steve Rosenthal, Nora Guthrie… uma lista muito longa para compartilhar aqui. Mas, além de dar à nossa banda o equivalente a uma aula de rock ‘n roll, deram a todo o mundo o dom mais precioso: a inspiração.
Então… Gracias a todos, México… nós não poderíamos ter feito isso sem vocês.
Em pouco tempo, nossa equipe estava cambaleando de cidade em cidade, costa a costa, pegando cada gota possível (!) de 100 culturas americanas. Dançando em um desfile de rua em New Orleans, deitando sob o deserto estrelado em Joshua Tree, passeando pelas ruas de Chicago num puta frio… Foi um sonho americano de verdade. Nossa única responsabilidade era compartilhá-lo com vocês, e as pessoas corajosas da HBO nos confiaram para isso. (Muito livremente, deixe-me adicionar.) Um tiro no escuro? Talvez. Mas, sem Nina Rosenstein, não seríamos as pessoas que somos hoje. Olhando para trás, ela nos deu algo incomensuravelmente generoso: algumas das melhores memórias de nossas vidas. Estas pessoas e lugares que nós experimentamos encheram os nossos corações… e, finalmente, as nossas músicas. Então, obrigado a você, Nina. Nós somos seus. Mas, focados no momento, nós nunca em nossos mais loucos sonhos poderíamos imaginar o turbilhão dos 23 meses que estavam à nossa frente. Fomos dando um passo de cada vez e caminhando…
Devo admitir, eu nunca olhei para a nossa agenda. Eu estava com muito medo. Eu sabia que era a hora. Sabia que seria grande. Falava-se em estádios, aniversários e programas de TV. África do Sul, Coréia, Colômbia. Letterman e Glastonbury. Tudo parecia bom demais para ser verdade! Mas, como sempre, mantivemos nossas cabeças baixas e tentamos apreciar cada momento enquanto eles passavam. Porque, você percebe, nada disso estava marcado para acontecer. Nunca esteve. Quando nos aproximamos do nosso vigésimo aniversário, foi difícil não olhar para todos esses anos e sorrir enquanto ficamos cheios de admiração e incredulidade. Partindo da turnê dentro de uma van com o Mike Watt em 1995 e chegando ao estádio RFK em Washington, D.C. (minha cidade natal) no 04 julho de 2015… esses pontos não necessariamente se conectam na vida real, sabe? Isso ainda confunde a mente. Mas, os resultados dessas bênçãos não foram perdidos em nós. Contamos e nos importamos com todos.
Mesmo os desastres.
Um golpe de sorte? Sim, você poderia chamar assim. [O acidente em] Gothemburg foi um lembrete rápido de que a vida é curta, e que todos nós estamos aqui para vivê-la juntos, não importa os obstáculos que você encontra. (Música! O remédio perfeito!) Claro, semanas e semanas sentado em quartos de hotel com um gesso na minha perna, tentando fazer minha mala sozinho antes das ligações ao serviço de quarto se tornarem cansativas. Mas, como sempre, eu dou um passo de cada vez.
E então tudo mudou. A energia. A atmosfera. O TRONO. Eu não tive mais medo de olhar para o calendário, eu estava colado a ele. O desafio que nós enfrentamos a partir daí tornou-se mais do que uma missão, ou um desafio, se assim pode-se dizer. E aconteceu. O sorriso do Pat ficou ainda mais largo (um medidor infalível para todas as coisas), os solos do Chris ficaram ainda mais rápidos (graças a Deus alguém sabe o que está fazendo nessa banda), Nate começou a se movimentar mais pelo palco (uma vez eu o vi à minha esquerda) e o kit de bateria do Taylor… bem… ficou mais rosa. Mas não sem a ajuda de dezenas de trabalhadores que alguns poderiam chamar de “Tripulação de turnê do Foo Fighters.” (Nós gostamos de nos referir a eles como família). Eles, em última instância, merecem a maior parte do crédito por manter este circo de pé nos últimos 6 meses. Então, vamos todos brindar com uma bela Coca Diet morna por eles. Eles são os caras mais durões do pedaço. Um brinde!
E assim nós marchamos adiante. Qualquer cansaço era recebido com uma explosão de energia assim que a cortina subia. Qualquer dor era recebida com a adrenalina de milhares de vozes cantando juntas. Cada um de vocês nos manteve vivos por um bom tempo. Uma noite, em um
ponto em que eu senti como se estivesse no final das minhas forças, eu lembrei que essas poucas horas em que passamos juntos toda noite são como um cobertor bem grande para se enfiar embaixo. Eu podia sempre contar com o nosso tempo juntos para me levar para a próxima parada. De novo e de novo. De Chicago à Cesena.
Dito isto… nós sempre fomos muito bons em saber quando parar. A gente só… sabe. Você começa a ter a sensação de que, se não tiver cuidado, suas migalhas de pão que te ajudam a encontrar o caminho para casa vão acabar, e você ficará perdido pra sempre na floresta. Esse sentimento me veio há alguns meses, me cutucando no ombro e dizendo: ‘Ei… não gaste tudo com uma coisa só, idiota!’ Um lembrete de que tudo que é bom deve chegar a um fim. Claro… poderíamos continuar. Afinal, nós chegamos até aqui, certo? O que são mais 20 anos?
Foi mais ou menos quando chegamos em Austin, Texas, para o Austin City Limits Festival. Um grande show, dois finais de semana e centenas de artistas, era uma das nossas últimas apresentações da turnê americana. Há um certo alívio nisso. Por um lado, você está transportando essas experiências monumentais sob sua asa enquanto anseia pela vida fora de um ônibus de turnê. Por outro lado, você tem medo de que a emoção e alegria de compartilhar música com pessoas de todo o mundo vai deixar você como uma concha vazia quando ela for embora. Ela se torna o seu tudo. E isso é aterrorizante.
O Hotel Saint Cecilia, nomeado em homenagem à padroeira da música, é conhecido como “um
retiro luxuoso do mundo.” E, acredite em mim, é mesmo! Catorze quartos e um pequeno bar, escondido nas árvores dentro de um bairro movimentado de Austin. Enquanto nossa van parou nas primeiras horas do dia 30 de setembro de 2015, fiquei impressionado com uma ideia bastante impulsiva: gravar algumas canções em nossos dias de folga e oferecê-las ao mundo como um ‘obrigado’ pelos últimos 2 anos. Embora há um estúdio de gravação de classe apenas do outro lado da cerca (Arlyn Studios, jogue no Google), a gerente do hotel, Jenny, ofereceu que gravássemos no hotel. Uma oferta mais generosa, mas nada realista. Embora, depois de martelá-la na minha cabeça algumas vezes, fez todo o sentido! Baseado na cidade onde todo o conceito de Sonic Highways nasceu, enchemos pela última vez uma sala que nunca foi destinada a ser um estúdio, como fizemos em SH, e fazer algumas músicas! Destino? Eu estava muito cansado para pensar nesse tipo de merda, então me decidi, acordei na manhã seguinte e comecei a fazer algumas ligações…
Por volta das 6 da tarde no dia seguinte, o escritório foi transformado em uma sala de controle e o bar estava cheio de microfones e cabos. Amplificadores estavam na cozinha. Bateria em frente à lareira. Um estúdio instantâneo, cortesia do lendário Kevin Szymanski! (Essas coisas sofisticadas de computador são bastante convenientes! Mais sobre isso em outra hora…) Margueritas foram feitas, amigos vieram visitar, o sol se punha, e em pouco tempo começamos a fazer barulho suficiente para conduzir os vizinhos a virem beber junto com a gente. Riffs e ideias foram jogados na roda, canções que foram perdidas ao longo dos anos, canções que foram deixadas inacabadas. Como um musical retrospectivo, estávamos passando por décadas de músicas que ninguém nunca ouviu falar, peças deixadas pra trás no corte de cada álbum. Nosso próprio caderno sônico. (A música ‘The Neverending Sigh’ tem 20 anos de idade! Já foi chamada de ‘7 corners’, para os fanáticos que queiram saber…) Sem a usual pressão ou expectativa de fazer um álbum, nós nos sentamos felizes e relaxados enquanto tocávamos. Um “This Is Your Life” virtual do Foo Fighters. Foi tão bom, mas novamente, um pouco ruim, sabendo que tudo estava chegando ao fim.
À meia-noite, a Preservation Hall Jazz Band chegou, e a ‘sessão’ se transformou em uma festa completa. Guitarras foram trocadas for instrumentos de sopro e a sala começou a balançar (girar?). As pessoas dançavam entre os cabos e microfones, dançavam atrás do bar, tocavam violões no pátio. Danny Clinch fez o que Danny Clinch faz, capturando os momentos em belas imagens entre os coquetéis. Gary Clark Jr. se sentou no pátio a luz de velas, tocando junto com os amigos em um sofá. À medida que as horas passavam, a atmosfera tinha chegado exatamente no ponto em que toda gravação deve ser: uma celebração. “Sempre gravem! Sempre gravem!”, disse Jack Black no infame filme do Tenacious D, anos atrás. Nunca houve uma verdade mais verdadeira. Porque você só pode sentir falta de algo que nunca mais fará. Momentos que acontecem uma vez na vida. No momento em que o fim de semana acabou, nós tínhamos gravado 5 canções naquela pequena sala.
O segundo final de semana foi gasto com a gravação de vocais e guitarras no meu quarto, o número 4. Mais amigos, mais margueritas, uma fogueira. A fabulosa Cambria Harkey apareceu por lá, usando sua câmera para nos garantir que isso não era apenas um sonho. A varanda foi ficando movimentada enquanto eu fazia os vocais no meu banheiro, entrando e saindo para ouvir o que já havia sido gravado. A mesa de café tornou-se uma pilha de pedais de guitarras e letras rabiscadas, garrafas de cerveja e cinzeiros. Em um ponto, um cara familiar entrou e disse: ‘Dave… é o Ben Kweller…’ Quanto tempo! Um cara tão talentoso. Nós nos abraçamos, eu apertei o play para ele ouvir a última parte de vocal que gravei, e ele instintivamente começou a cantar a harmonia perfeita para a minha música. Sem hesitar, eu imediatamente disse: ‘Traga sua bunda para cá e cante isso agora.’ Então ele pegou pedaço de papel manchado com minhas letras a lápis e foi gravar. Sempre gravem, senhoras e senhores. Sempre gravem. A noite foi embora, amigos e familiares espalhados por lá, e eu adormeci com o meu amplificador ainda brilhando no pé da minha cama.
Foi de partir o coração ter que deixar aquele lugar, para dizer o mínimo. Eu honestamente sinto que nós deixamos um pedaço da nossa banda lá, como se estivéssemos sendo arrancados do lugar. A perfeita unidade da vida e do amor e da música é algo que só aparece em algumas circunstâncias, em algumas vezes. Quando você sentir isso chegando, você tem que se agarrar. Aquele lugar e aquelas pessoas tornaram possível que a nossa banda desse esse grande último suspiro antes que a cortina se feche. Felizmente, temos provas disso nestas canções que estamos dando a vocês hoje. Obrigado, Santa Cecília. Você nos fez nos sentir em casa.
E, a música? Talvez essas músicas são as migalhas de pão que nos ajudarão a encontrar nosso caminho de volta quando for a hora. Um agradável passeio pela floresta não nos faria mal agora. Outro caderno vazio, outro toque no ombro… essas coisas nunca estão longe. É o que vem pela frente naquela floresta que me deixa animado agora…
Então, nesta noite, enquanto eu me sento em meu quarto de hotel em Berlim durante a nossa última turnê para este álbum, contando os dias até voltarmos para casa, eu não posso evitar de me perguntar quando nós nos veremos outra vez. Quem sabe? Mas, como tudo que o Foo Fighters faz, isso só vai acontecer que nos sentirmos bem em fazê-lo. E isso é um sentimento que é fácil de sentir.
Para todos e cada um de vocês que fizeram dos últimos anos os melhores que nossa banda já teve, obrigado. Vocês todos nos deram demais, e somos eternamente gratos. De verdade.
Um passo de cada vez…
Dave”



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