CENAS DA VIDA DE UMA LENDA QUE NÃO PODE FICAR PARADA! PARTE 3


“Mas não funciona assim. O que acontece é que eu realmente tento tocar a música como eu sei, sem esforço, mas há um padrão que não deve se perder, e há palavras que eu tenho que colocar nesse padrão, por isso eu ainda tento fazer direito. E o que eu me vejo fazendo é analisar esse trabalho desses vinte e poucos anos. É como se ela (música) não fosse minha. Não é uma perda de tempo. Não há quase nada que eu possa mudar para o piloto automático. Em vez de me entediar com a música, eu ainda estou tentando olhar pra ela – o que diabos é isso? Por que eu fiz isso?”

Ele não tem mais o seu maço de cigarro. Hoje ele acumula memórias dos Beatles, ao lado de arte moderna e contemporânea: de Kooning, Picasso, Philip Guston. O título da nova canção “On My Way to Work” veio enquanto ele folheava um livro de história de Damien. “Eu estava atrás de inspiração”, diz McCartney. “Eu vou olhar em qualquer lugar, vou abrir um livro e esperar que o primeiro parágrafo que eu veja tenha uma frase arrebatadora.” Quando chegou a hora de conceber a capa do New, ele convocou sua equipe de criação, o que inclui o marido de Stella, Alasdhair Willis, e consultou uma dupla que passa por Rebecca e Mike – “Ideias malucas”, diz McCartney. Eles optaram por um design elegante, fazendo o título do álbum com nove varas fluorescentes feitas pelo escultor minimalista Dan Flavin. “Eu gosto das suas esculturas”, diz McCartney. “Eu nunca comprei nada, mas eu simplesmente gosto das ideias que ele tem quando vejo em alguma galeria.”

Outro artista que ele admira o trabalho? Yoko Ono. “Ela é foda” McCartney diz. Ele e Yoko trabalharam juntos em “Love!”, juntamente com Ringo Starr e Olivia Harrison, e ele diz que depois de anos abrigando recriminações e amarguras um com o outro, eles se deram bem. “Tempo, é o melhor remédio.” Ele diz. “Eu pensei ‘Se John a amava, deve ter algo nela. Ele não é idiota.’ O que você vai fazer? Guardar um rancor que você nunca teve? Nós estávamos bravos que os Beatles estavam se separando, que algo estava diferente, que tinha uma garota no estúdio. Nunca tinha acontecido isso. John queria a Yoko lá. E nós três ficamos enfurecidos. Então eu tive meio que, no final, dizer ‘Vamos ver como vou me dar com ela’, e nós nos demos bem a partir do momento que eu decidi que não havia rancor.”

Quanto mais McCartney pensa sobre o fim, mais ele pensa sobre reconciliação, perdão – com Ono, com John, com qualquer um. “George (Harrison) diria pra mim, ‘Você não vai querer essas coisas em sua vida’” ele diz. Mas estes impulsos, no entanto, tem limites. Eu perguntei se ele já tinha pensando em perdoar Mark David Chapman. McCartney respira profundamente. Talvez não tenhamos tempo para ele responder plenamente a essa pergunta. Eu adiciono “Nós temos”, ele responde “A resposta é não. Esse foi o resultado da ação de um completo idiota. Não é apenas alguém que você perde tempo. É muito mais, se foi malvado ou apenas louco não importa, foi imperdoável. Eu acho que poderia muito bem perdoar qualquer um. Mas não vejo porque eu iria querer perdoá-lo. Esse é um cara que fez algo tão louco e extremo. Por que eu deveria abençoá-lo com o perdão?”

“Você quer uma dose de tequila?” pergunta McCartney. O chá verde é bom, mas não é o suficiente. “Vamos lá. Traga ela aqui. Tenho que fazer isso.” Ele pede ao garçom, e logo dois copos de Patrón chegam, a massagem foi prejudicada. “A nós – saúde e felicidade” McCartney diz, fazendo daquele o meu momento. Damos um gole profundo. “Hi-yahh!” ele diz, colocando seu copo de volta na mesa. “Oh baby”.

McCartney tem uma casa nas proximidades, mas ele passa a maioria do tempo na Inglaterra, perto de sua filha de nove anos, Beatrice, dividindo a custodia com sua ex-mulher, Heather Mills. Beatrice se tornou um importante feedback para as suas novas músicas. Quando McCartney pegou pela primeira vez um bandolim e tentou aprender a tocá-lo, ele criou um riff que seria a música “Dance Tonight”, single de 2007. “Eu estava batendo no chão, cantando, e ela veio correndo e começou a dançar” ele relembra. “Eu pensei ‘Whoa, aí está minha prova.’”

Ele organiza seus shows e sua agenda de gravações em torno de Beatrice. Eles gostam de assistir desenhos juntos, desde os filmes antigos da Disney aos lançamentos da Pixar. McCartney volta para a estrada em novembro, fazendo alguns shows no Japão. Ele está em processo de elaboração. “Eu tenho uma ideia martelando” ele diz. “Quando eu soube que o título do álbum seria New, eu tive essa pequena visão – sabe, como se você estivesse acordando pela manhã – de mim na frente de uma floresta vestindo uma camisa xadrez, tipo de lenhador, enquanto tenho uma foto minha sendo tirada pelo vizinho. Ao meu lado, com o braço em volta de mim, tem um robô, um cara muito brilhante. Então, no momento, eu estou trabalhando na ideia de ter esse cara gigante no palco. Eu gosto da ideia de ter um grande amigo que é um robô."

A melhor referência de como o robô se parece é o “Gigante de Ferro” – o filme favorito dele e da Beatrice. Para projetar o robô, McCartney contratou a mesma empresa que fez os bonecos para a versão teatral de “Cavalo de Guerra”. “É uma ideia altamente especulativa”, ele diz. “Por que você iria querer construir um robô? Só porque você imaginou uma foto de si mesmo com um? Mas é isso que você deve fazer: você tem ideias e deve tentar torna-las real. Você tem uma ideia para música e você tenta torna-la real.”

Ele pensa por um momento. “Bem, essa ideia tem a ver com novidade. Eu sou um cara que vive ao ar livre, uma espécie de homem do campo, vivendo na floresta...” Ele sorri. “Mas eu tenho esse amigo, e ele é do mundo moderno. Na verdade, ele é o futuro.”



TRADUÇÃO: Daniel Generalli e Patricia Galvão


Fonte: Paul, Get Back to SP

Postar um comentário

0 Comentários
* Please Don't Spam Here. All the Comments are Reviewed by Admin.