Secretária dos Beatles revela intimidade do grupo em filme

Freda Kelly é a anti-Yoko Ono. Enquanto a artista japonesa leva a culpa pela ruptura dos Beatles, essa inglesa desconhecida lutou por 11 anos para manter a banda unida e afinada.
Kelly foi a secretária dos garotos de Liverpool e tem sua história contada pela primeira vez em documentário que será exibido no Festival do Rio, que começa no dia 26.
"Eles chegaram a me chamar de irmã", diz a senhora de "quase 70 anos", hoje secretária de uma firma de advocacia, em "Good Ol' Freda".
O título, boa e velha Freda (que se lê Frida, que nem a Kahlo), é outro vocativo que a banda usava para ela.
Magnolia Pictures/Efe
Freda Kelly, antiga secretária dos Beatles, em retrato recente
Freda Kelly em retrato recente; secretária dos Beatles por 11 anos, ela tem sua história contada no filme 'Good Ol' Freda'
Velha porque ela era "groupie" antiga, ainda que não fosse nem maior de idade.
"Ela se considera uma fã que estava na hora certa, no lugar certo", diz à Folha o diretor americano Ryan White.
O lugar certo, no caso, era o claustrofóbico pub Cavern Club, em Liverpool. Foi lá que os Beatles assinaram o primeiro contrato com gravadora. Freda, então com 17 anos e presidente do incipiente fã-clube, virou cláusula dele. Passava de tiete a secretária.
"Nunca mudei completamente de lado. Eu era uma fã, sabia de onde elas vinham e o que pensavam", conta ela.
Por exemplo: quando o empresário da banda decidiu substituir os autógrafos dos músicos por carimbos, Freda contrabandeava parte da correspondência e os fazia assinar de punho próprio as fotos mandadas às fãs.
"Eles eram muito gentis comigo. Nos falamos até bem depois", diz ela no filme, que por ora só estreou nos EUA.
Prova disso é que Ringo é entrevistado, Paul permitiu que quatro músicas fossem usadas na trilha e ainda tem sua madrasta na tela, dizendo que Freda "é a última história a contar sobre os Beatles".
Última pois Kelly se recusara a dar entrevista por 50 anos. Um dia, procurou White, filho de uma amiga, e disse "quero falar". "Não foi para lucrar, mas para fazer história mesmo", diz o diretor, que virá ao Brasil para o festival.
Até porque outras chances de fazer fortuna foram ignoradas. Quando o grupo terminou, Freda doou roupas e outros itens que ficaram no escritório do grupo a fãs.
paixão diária
Ela diz só guardar memórias, como a paixão que intercalava pelos quatro chefes, dependendo do dia. Saiu com algum? "Há histórias, mas não quero que o cabelo de ninguém caia de susto."
Com o fim do fenômeno, seguiu estoica, respondendo cartas de fãs por dois anos. Coisa de 2.000 por dia. "Não sei como vivia. Um dia, decidi ter uma vida normal. E posso dizer uma coisa? A rotina de secretária não é tão emocionante quanto parece."



Freda Kelly posa com Ringo Starr (esq.) e George Harrison (dir.) em foto datada de 1967

Fonte: Folha



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