Prestes a completar em novembro 20 anos a serviço do assim chamado classic rock,
mas sempre aberta para a divulgação de artistas ligados a novas
tendências, bem como a trabalhos experimentais e fora do circuito
convencional, a revista inglesa Mojo ainda é a publicação mensal
impressa mais respeitada sobre música pop do mundo. Por lá circularam
críticos do renome de Charles Shaar Murray, Nick Kent, Greil Marcus e
Paul Du Noyer, cujo texto refinado, insight e conhecimento enciclopédico
sobre a matéria ajudaram a avaliar de forma singular – em generosas
matérias de 20, 30 páginas – tanto a obra de medalhões como Beatles e
Dylan quanto aquela criada por valores emergentes praticamente
desconhecidos do grande público – vale lembrar que Mojo foi a primeira
publicação ligada ao mainstream a destacar enfaticamente o trabalho do
ainda embrionário duo The White Stripes.
Entre as atrações mais festejadas pelos leitores
de Mojo estão os CDs temáticos que seus editores anexam como brinde da
revista. Produzidos com esmero a partir da colaboração voluntária de
músicos da velha e da nova geração, os CDs bônus da Mojo já chegam ao
mercado com status cult, tornando-se itens disputados a tapa entre os
colecionadores. Foi o que ocorreu com as regravações integrais dos
antológicos 'The wall/The dark side of the Moon' (Pink Floyd), 'Harvest'
(Neil Young), 'Pet sounds' (Beach Boys”), 'Sgt, Peppers... /The white
album' (Beatles), 'Sticky fingers' (The Rolling Stones), 'Power',
'corrruption & lies' (New Order), 'Rumours' (Fleetwood Mac) e 'The
songs of Leonard Cohen' (Leonard Cohen) – prática que na edição de
agosto Mojo retoma com a revisão completa do álbum With the Beatles, com
cada uma de suas 14 faixas executadas em versões inéditas e na mesma
sequência estabelecida para o álbum original.
Covers bacanas
Despretensiosa,
mas de uma sinceridade a toda prova, a edição do rebatizado 'We’re with
the Beatles' revê o clássico lançado pelo Fab Four em 1963 de modo a
não deixar dúvidas de que, se com o prévio 'Please, please me' o então
iniciante quarteto de Liverpool apresentara um frenético cartão de
visitas, sua poderosa sequência era a confirmação sônica de que Paul,
Ringo, John e George realmente haviam chegado para ficar. Hoje, quando a
gravação comemora meio século (!) de sua chegada às lojas no formato de
vinil de 12 polegadas, o remake provido pela Mojo confirma de modo
peculiar que o material lá contido era bem mais do que alguns céticos
acreditavam ser mais outra amostra do tal iê-iê-iê, um parvo modismo
juvenil que, em questão de meses, talvez semanas, estava fadado a
desaparecer, sem deixar rastro.
Dividido entre temas de
Lennon & McCartney, uma solitária contribuição de George Harrison e
releituras de hits compostos por Chuck Berry, Smokey Robinson e Berry
Gordy, entre outros, With the Beatles serviu aos fãs com um delicioso
coquetel de soul da Motown, baladas
ao modo das girl-groups da época, canções pinçadas de musicais da
Broadway, r&b, pop e rock’n‘roll. Projetado para o novo milênio,
We’re with the Beatles ressurge ostentando timbres inauditos, arranjos
ousados e um frescor, digamos, inesperado, mas plenamente condizente com
a natureza indelével das grandes obras dos Beatles.
Entre
os destaques do disco, impossível não se surpreender diante do abandono
ska-soul ao qual o grupo James Hunter Six se entregou a 'I wanna be
your man'; da lisergia metafuturista a trespassar os etéreos vocais de
Eva Petersen (uma estrela em ascensão que deve estourar logo) e a
guitarra technicolor de Will Sergeant (leia-se Echo & The Bunnymen)
na harrisoniana 'Don’t bother me'; do assombrado êxtase que tomou o
projeto Taken By Trees quando releu a romântica
'Till there was you'; do embalo dançante provido por uma sanfona (!)
que emprestou uma aclimatação digna dos mafuás que infestam a zona
boêmia de New Orleans em meio ao arranjo cajun-zydeco proposto para
'Please, mr. postman'; da fantasia barroca tramada entre acordes de
harpa, piano e synths pelo “holandês voador” em 'You really got a hold
me' e do minimalismo espectral com que Marc Rigesford – também um nativo
de Liverpool – revisitou (sob o codinome Magic Arm) a balada Not a
second time. Enfim, palmas para a equipe da Mojo, pois ela merece, já
que a audição de 'We’re with the Beatles' é sinônimo de diversão
garantida para velhos e novos fãs do eterno Fab Four.
Fonte: Divirta-se
Revista inglesa mojo faz publicação especial dedicada aos Beatles
8/24/2013 12:13:00 AM
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