Stuart Sutcliffe foi um beatle por pouco tempo. Ele trocou a música por suas verdadeiras paixões: as artes plásticas e a namorada, Astrid Kirchherr, fotógrafa alemã que virou amiga dos rapazes de Liverpool antes da fama, durante a temporada do grupo em Hamburgo, na Alemanha - onde eles aprimoram seu poder de fogo em cima do palco tocando em inferninhos na zona boêmia da cidade. É nesse período que se passa a história em quadrinhos Baby's in black - O quinto beatle. Como o título sugere - e com o subtítulo "A história de Astrid Kirchherr e Stuart Sutcliffe" confirma -, a HQ escrita e ilustrada pelo alemão Arne Bellstorf tem os Beatles como coadjuvantes do curto, mas intenso, relacionamento do baixista com a fotógrafa. Stu, como era conhecido, tocou baixo nos Beatles entre 1960 e 1961. Especular como teria sido a história da banda caso ele tivesse permanecido nela é um exercício que não vai muito longe. Sutcliffe morreu de aneurisma cerebral, aos 21 anos, em 10 de abril de 1962. Ainda hoje é muito pouco conhecida a história de Stuart Sutcliffe, o quinto integrante dos Beatles, que fez parte da formação original da banda mais famosa de todos os tempos, em 1960. Ainda mais desconhecida é a triste história de amor que ele protagonizou com a fotógrafa alemã Astrid Kirchherr. É esse momento que Arne Belstorf revela na HQ alemã Baby's In Black, lançada na Europa em 2010 e que só agora chega ao Brasil pela 8Inverso.
Outubro de 1960 e os Beatles, então um quinteto, fazem shows diários em um bar chamado Kaiserkeller, uma espelunca esfumaçada, em Hamburgo, frequentada por marinheiros, arruaceiros e marginais de todo o tipo. Todos eram adolescentes - George Harrinson tinha 17 anos, John Lennon, 19 e Paul McCartney, 18. O baterista Pete Best, 19 - e chegaram a ter problemas com a polícia por causa da pouca idade. O estudante de arte Klaus Voorman convence sua amiga, Astrid, a assistir a apresentação do grupo. Ela, acaba se apaixonando por uma figura misteriosa na formação, um baixista que praticamente não olha para o público, usa óculos escuros e conserva um ar taciturno. Era Stuart. A história desse Beatle, amigo de John Lennon, que foi convencido por este a largar suas pinturas para se arriscar em um grupo de rock, é o mote desta HQ, sucesso na Alemanha quando foi lançada. A relação do casal em Hamburgo nos anos 1960 ajuda a entender os primeiros anos da banda que redefiniu a música pop no século passado. A história, pouco conhecida, por muito tempo ficou oculta aos olhos dos fãs, já que Stu abandonou o quinteto antes mesmo da gravação do primeiro disco. Sua ideia era estudar artes plásticas em uma renomada escola alemã.
A presença de Astrid foi importante em sua formação, influenciando seu trabalho. Ele morreu muito jovem, de uma hemorragia cerebral, interrompendo uma possível trajetória de sucesso. Professores em Hamburgo e na Inglaterra, que tiveram contato com Sutcliffe demonstravam entusiasmo com o trabalho do garoto, então com 19 anos, que buscava inspiração no expressionismo. Ele vendeu um quadro em uma exposição para comprar seu primeiro baixo e sair na estrada com os Beatles. Astrid acabou aproximando-se dos rapazes, assim como seu amigo Klaus Voorman, mais tarde, autor da capa do disco Revolver. A fotógrafa foi a responsável por fotos clássicas do início da formação dos Beatles e chegou a morar em Liverpool na época da febre beatlemaníaca que varreu a Europa - e depois o mundo. Seu trabalho dessa época já foi usado em diversas exposições e chegou a ganhar uma grande retrospectiva. Ela, no entanto, decidiu abandonar a vida pública e passou a recusar pedidos de fotos dos integrantes. Baby's In Black tem uma força emocional grande por decidir se ater à relação amorosa de Astrid e Stuart, nos primeiros momentos da banda.
Arne Bellstorf, um dos destaques da nova geração de quadrinistas alemães, conseguiu trabalhar com subjetividade para contar a história do casal. Para isso, usou referências das artes plásticas e também da música. Os interlúdios de Astrid, retomando a lembrança do primeiro encontro com Stuart, vão se tornando cada vez mais dolorosos, a medida em que avançam seus problemas de saúde e a saudade aumenta. Há também as cenas de shows, com dinamismo, criando uma sensação de estar no meio do público. A edição brasileira decidiu manter as letras das músicas em inglês, o que vai agradar os fãs de música pop. É uma HQ que requer tempo para uma entrega total do leitor. Ao contrário do que poderíamos imaginar, não há o ritmo acelerado, esfuziante, que um clichê sobre os Beatles poderia nos remeter. Pelo contrário, chega a ser melancólica na maior parte do tempo. A única coisa que atrapalha é que o traço de Belstorf faz com que os personagens sejam muito parecidos entre si, o que confunde o entendimento algumas vezes. A seu favor, no entanto, está a caracterização muito bem feita do período, como roupas, cenários, e algumas curiosidades, como as referências ao pós-Guerra, nazismo e o surgimento do rock'n' roll. Baby's In Black é uma HQ imprescindível para os fãs dos Beatles, mas ela vai além desse público, ao ter como seu objetivo principal revelar uma das mais trágicas histórias de amor da cultura pop de todos os tempos.
BABY'S IN BLACK — O QUINTO BEATLE - Arne Bellstorf - 212 páginas, R$ 51,00
fonte: O Baú do Edu