A história dos Beatles com as drogas

Já faz parte da lenda do rock a ocasião em que Bob Dylan dividiu um cigarro de erva com os Beatles. Mas a história da banda com os alucinógenos não parou por aí.


Os alucinógenos sempre estiveram entre as prioridades do Beatles, especialmente de um deles: John Winston Lennon. Numa entrevista feita ao editor da revista Rolling Stone Jann Wenner logo após o fim da banda, em 70, John revelou que não houve um só momento em sua vida onde as drogas não estivessem presentes. Anfetamina, erva, tabaco, cocaína, heroína, ácido, álcool. Todas elas, algumas vezes simultaneamente.

Foi John também quem mais escreveu canções com alusões aos psicotrópicos. São muitas. Na singela e misteriosa “Norwegian Wood”, por exemplo, ele canta: So I lit a fire, Isn't it good? Norwegian wood. Só então temos uma leve idéia do que seja essa tal “madeira norueguesa” e porque ela está presente nas ações em que a música descreve o encontro inusitado de Lennon com uma garota excêntrica. “Doctor Robert” fala de certo amigo chamado doutor Roberto. Dizem se tratar do “fornecedor” particular de Lennon. Ele canta: He does everything he can, Doctor Robert. If you are down he'll pick you up, Doctor Robert. Take a drink from his special cup, Doctor Robert. Espero que não seja eu a ver “maldades” em tudo. Há também a densa “Happiness ia a Warm Gun”, que foi composta a partir do flerte de John com a heroína.

Deslumbramento e temor em lindos versos como: When I hold you in my arms/And I feel my finger on your trigger/I know nobody can do me no harm/Because happiness is a warm gun, mama. “Lucy in the Sky with Diamonds” é o caso mais explícito. Preciso dizer por quê? Olhem suas iniciais.

Na véspera de completar 25 anos, Paul confessou a um jornalista da revista Life que fez uso de LSD: "I took LSD". O jornal britânico Daily Mail o chamou de “idiota irresponsável”. À época alguns líderes religiosos organizaram uma série de orações para que a juventude inocente do mundo não seguisse o exemplo de Paul.

O ácido ainda viria a ser tema de outra confissão de Paul, esta mais contundente. “Provei para ver como era e porque tinha lido muita coisa sobre o assunto. E concluí que, se os estadistas fizessem a mesma coisa, poderiam eliminar as guerras e a pobreza de uma vez por todas. Não sou, não fui e jamais serei um viciado em qualquer tóxico e de nenhuma forma aconselho a que as pessoas usem tóxicos. Mas não posso esconder a verdade de que o LSD transformou-me momentaneamente em membro de uma sociedade melhor, mais honesta e mais tolerante. Mais próxima de Deus, portanto.”


Matéria postada originalmente em 2012


Outra droga com a qual o “beatle bonito” teve uma longa e apaixonada relação foi a erva. Nos anos oitenta Paul chegou a ser preso no Japão por levar um pouco da droga consigo. Temos uma idéia da importância da maconha na vida de Paul por uma música que ele escreveu em 1966 e que ele diz abertamente que a compôs para a droga. A canção se chama “Got To Get You Into My Life” e traz versos como: Did I tell you I need you /Ev'ry single day of my life, e mais: Got to get you into my life. What can I do, what can I be? When I'm with you I want to stay there.

Ringo, por sua vez, era o mais comedido com os alucinógenos: passou pelo ácido rapidamente, teve algum flerte com a cocaína e a maconha, mas seu forte sempre foi o álcool. Quanto a George, não demorou muito a descobrir sua vocação para o budismo, que o fez, se não largar completamente, pelo menos diminuir de maneira drástica o uso de maconha e ácido. Ele em 67 já advertira para os excessos de ácido em “Blue Jay Way”, canção sombria que faz parte da trilha sonora do filme mais “viajado” que os Beatles fizeram: Magical Mystery Tour.

Não é por acaso que a musicalidade dos Beatles foi seguindo um caminho mais complexo e substancial à medida que os quatro rapazes de Liverpool foram deixando os estimulantes de lado (as anfetaminas dos tempos de Hamburgo, na Alemanha) e começaram a flertar com alucinógenos do tipo mais “contemplativo” e “espiritual”, como maconha e o LSD.

Obras como Rubber Soul, Revolver, Sgt Peppers, Magical Mystery Tour e White Album são profundamente marcadas pela experiência com os alucinógenos, e também pelas mutações e transformações formais que a canção popular sofreu. Sem querer parecer hermético, o que eu quero dizer é que essas duas coisas são uma só: não haveria revolução musical sem uma “revolução da percepção” destes hábeis compositores.

Fonte: Obvious Mag

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